Folha de S. Paulo


Steven Spielberg regressa ao universo infantil em 'O Bom Gigante Amigo'

A influência de Steven Spielberg, que completa 70 anos em dezembro, vai além do cinema.

Pode ser sentida na série mais falada do momento, "Stranger Things" (Netflix), nos parques de diversão da Universal, de onde recebe 2% de cada ingresso vendido, e nos seus filhotes diretos, como "Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros" (2015), produção que rendeu, no ano passado, cerca de US$ 1,6 bilhão.

Divulgação
CENA DO FILME O bom gigante amigo. [The Big Friendly Giant, Estados Unidos, 2016], de Steven Spielberg (Disney). Gênero: aventura. Elenco: Mark Rylance, Ruby Barnhill, Rebecca Hall. 3D/ Dolby Atmos. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
A órfã Sofia e o amigo BGA em cena do longa de Spielberg

Mas o diretor de Cincinnati, Ohio, não conseguiu atrair o público americano para ver "O Bom Gigante Amigo", que marca sua volta ao mundo do fantástico após três dramas de época ("Cavalo de Guerra", "Lincoln" e "Ponte dos Espiões"). Juntas, essas três produções conseguiram arrecadar US$ 617 milhões.

Já a adaptação do livro de Roald Dahl, publicado em 1982, rendeu em um mês apenas US$ 51 milhões nos EUA, contra custo de US$ 140 milhões —números que posicionam a obra entre os três piores desempenhos da carreira do homem quem inventou o blockbuster, com "Tubarão", em 1975.

"O fracasso de 'O Bom Gigante Amigo' dá pistas de que Spielberg pode ser um diferente tipo de cineasta, daqueles que não mais estão antenados ao zeitgeist [espírito da época]", escreveu Brent Lang, da revista "Variety".

A obra é a primeira experiência de Spielberg misturando atores com personagens virtuais criados pela técnica de captura de performance (câmeras infravermelhas gravam a performance dos atores, que são animados por computação gráfica).

VULNERÁVEL

Mesmo utilizando um esquema parecido na animação "As Aventuras de Tintim" (2011), o cineasta sofreu.

"Ele me falou que quase desistiu nas primeiras semanas", conta à Folha o ator Mark Rylance, que volta a trabalhar com Spielberg após ganhar o Oscar de ator coadjuvante por "Ponte dos Espiões".

O britânico, que faz o gigante digital que se esconde do mundo e faz amizade com uma garotinha (Ruby Barnhill) que o flagra nas ruas de Londres, diz que notou um Spielberg diferente neste volta ao tema infantojuvenil.

"Ele me pareceu mais vulnerável, porque investiu muito na história", diz. "Steven é impressionante. Você imagina que alguém com a reputação dele não ficaria nervoso ao assumir riscos, mas é o contrário."

O NÚMERO 1

Aos 69, Steven Spielberg não está pensando na aposentadoria. Entre diversos projetos, dois saem na frente da corrida: o nostálgico quinto filme de "Indiana Jones" e o vanguardista "Jogador Nº 1", adaptação do livro de Ernest Cline, que se passa quase que inteiramente em uma realidade virtual.

"Indiana Jones 5" só deve chegar aos cinemas em 2019, mas precisará superar a péssima recepção crítica que "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" obteve ao retomar o herói criado por George Lucas.

Antes, Spielberg poderá provar que "O Bom Gigante Amigo" foi apenas um desvio de percurso. "Jogador Nº 1" é uma trama inspirada em (e repleta de) videogames antigos, realidade virtual e nos próprios filmes de Spielberg.

"Não paro de dar telefonemas, mas agora as empresas sabem que estamos fazendo o filme e querem cobrar caro para liberar os direitos de imagem de personagens antigos", conta a produtora Kristie Macosko Krieger.

É a oportunidade perfeita para Spielberg mostrar que está ligado a todas as possíveis revoluções da indústria cinematográfica e que não deseja apenas ser influência antiga, mas ainda influenciar o futuro.

"Steven quer ser o pioneiro em tudo, o primeiro em tudo. Ele não cansa", exalta Mark Rylance. "Vai ser difícil para ele deixar essa vida. Se alguém merecia viver por mil anos, esse alguém é Steven Spielberg."


Endereço da página:

Links no texto: