Folha de S. Paulo


Peça com Caco Ciocler e Marjorie Estiano investiga devaneios da mente

"É uma peça que habita no pensamento", resume a diretora Monique Gardenberg. Trata-se de "Fluxorama", série de quatro monólogos escritos por Jô Bilac que estreia nesta sexta (22) no Sesc Ipiranga.

O dramaturgo carioca, 32, que no início da carreira ficou conhecido por uma estética próxima daquela de Nelson Rodrigues, buscou aqui um texto mais "sensorial".

Para retratar os pensamentos aflitos de quatro pessoas, criou uma dramaturgia sem rubricas (indicações de como atores devem agir), resumindo os fluxos de raciocínio dos personagens por meio da pontuação no texto. O resultado aparece de forma desorientada e pouco realista.

"O pensamento não é linear", justifica o autor. "Ele é atravessado pelo que acontece fora e dentro de você, tem uma narrativa própria."

A pesquisa, que começou em 2009, deu origem desde então a performances em Londres, Nova York, Suécia e Rio, mas cada uma delas continha apenas alguns dos monólogos. O que se vê no novo "Fluxorama" é o ciclo completo.

"Jô tinha essa ideia de uma pessoa fechada dentro de uma casa, depois uma pessoa na rua, porém acidentada, outra correndo e a última transcendendo", conta Monique. "Uma coisa de espaço físico, de passar por várias dimensões, da mais claustrofóbica à mais transcendental."

Em cena, o público assiste à história de uma mulher (Juliana Galdino) com uma doença que aos poucos lhe tira os sentidos. "Adquiri o hábito de mastigar sabonete para não sentir o gosto das coisas", diz ela, sobre a perda do paladar.

Depois acompanha um homem (Luiz Henrique Nogueira) que acaba de sofrer um acidente de carro e se alterna entre a ideia de morrer e reflexões banais: a conta de gás, a comida na geladeira, o taxista que lhe cobrou demais pela corrida do aeroporto.

Na sequência, surge uma mulher (Marjorie Estiano) no esforço de correr a São Silvestre. "Ah, tá cansada? Tá querendo arregar?", diz para si. "Vai terminar uma coisa uma vez na vida." E segue com frases de motivação, imagina a imensidão do mar, pensa na astróloga-fetiche Susan Miller.

Por fim, um homem (Caco Ciocler) tenta meditar em sua casa, pensa na tranquilidade da natureza, mas é atrapalhado pelo caos urbano. "Está tudo ligado. Então desliga, porra! Vai, pensar em nada."

Seguindo o texto sem rubricas de Bilac, a diretora criou cenas quase estáticas, com os atores ao centro do palco e pouco movimento.

"O texto está em primeiro plano", explica ela. "Fui entendendo a peça como um fluxo mesmo. A cabeça nunca para, então não queria interromper muito."

PROJEÇÕES

Esse fluxo de pensamentos é acompanhado por um cenário quase todo de projeções. Uma cortina translúcida na frente do palco recebe imagens que recriam os ambientes onde estão os personagens.

Como se brincassem na fronteira entre teatro e cinema, os atores ficam mergulhados naquela imagem bidimensional, que remete aos seus fluxos de memória.

Também é uma forma de mostrar a miudeza dessas pessoas diante do mundo, diz Monique. "Apesar de serem situações extremamente íntimas, quase como sessões de análise, acho que é operístico. Você transcende no final."

FLUXORAMA
QUANDO qui. e sex., às 21h, sáb., às 19h e às 21h, dom., às 18h; até 21/8
ONDE Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822, tel. (11) 3340-2000
QUANTO R$ 12,00 a R$ 40,00
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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