Folha de S. Paulo


análise

Por seis décadas, como cronista, repórter e crítico, foi honesto e apaixonado pelo teatro

Recém-chegado ao Rio, 23 anos, Sábato Magaldi estreou no jornalismo dizendo que buscaria "colaborar com esforço honesto e apaixonado para a formação do teatro brasileiro". Foi em 1950, no "Diário Carioca", no qual ficou só dois anos –cedendo o lugar para Paulo Francis.

Ao longo de seis décadas, foi honesto e apaixonado, das crônicas duras contra o teatro popular feito no Rio, contra os "mestres do passado", à defesa persistente da modernização conservadora do teatro em São Paulo.

Foi convidado para a nova cidade por Alfredo Mesquita, criador da Escola de Arte Dramática e membro da família que comanda "O Estado S. Paulo". Passou a atuar na cobertura de teatro do "Estado" ainda nos anos 1950 e, a partir de 1966, como crítico no "Jornal da Tarde", do grupo.

Sua produção no "JT" até 1988 foi coletada em "Amor ao Teatro" (Edições Sesc, 2014, 1.224 págs.). A exemplo de Décio de Almeida Prado, que escreveu no "Estado" até 1968, Magaldi priorizava a dramaturgia. Abria as críticas pela avaliação do texto e só depois citava encenação –direção, elenco, cenografia.

Foi também seguindo essa "hierarquia", como ele descrevia, que publicou "Panorama do Teatro Brasileiro" em 1962, um painel histórico focado nas peças -e não, como escreveu, em "todos os aspectos da vida cênica".

Seu textocentrismo, influenciado pelo modernismo teatral francês dos anos 1920 e 30, resultou em confrontos célebres, por exemplo, com o diretor Zé Celso. Também o afastou da pesquisa histórica realizada posteriormente, mais atenta à encenação.

Curiosamente, Magaldi foi muito próximo de todos os aspectos da vida cênica, da criação, desde o Teatro de Arena, nos anos 1950. Virou até personagem de peça. Considerava-se cúmplice do teatro, como lembrou sua viúva, a escritora Edla Van Steen.

Ainda se fala de "Panorama" como sua obra mais significativa, mas outras vêm sendo revisitadas, como "Nelson Rodrigues - Dramaturgia e Encenações" (Ed. Perspectiva, 1987), levando ao enriquecimento de seu legado.

Mais importante, talvez: Sábato Malgadi deixou um diário de sua vida no teatro, distribuído por décadas e dezenas de cadernos à mão, que só será aberto daqui a 30 anos, a seu pedido. A sua colaboração honesta e apaixonada ao teatro brasileiro, como cronista, repórter e crítico, está longe de terminar.


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