Folha de S. Paulo


Peça de ficção científica questiona se máquinas podem simular o cérebro

"De agora até o final dos tempos, todos os conflitos são evitáveis. De agora em diante, apenas as máquinas são inevitáveis!".

A frase de "Eu, Robô", obra escrita pelo russo Isaac Asimov, aparece projetada logo no começo da peça "O Teste de Turing", que inicia temporada nesta sexta (15).

Logo depois, na mesma tela, um linguista, um programador e um matemático dão as caras. Estão ali, numa espécie de videoconferência, a convite de uma empresa de tecnologia para realizar o famoso teste de Turing.

Lenise Pinheiro/Folhapress
A atriz Maria Manoella em cena da peça 'O Teste de Turing
A atriz Maria Manoella em cena da peça 'O Teste de Turing'

Proposto pelo matemático que lhe empresta o sobrenome, o inglês Alan Turing (1912-1954), ele tem como objetivo comprovar se uma máquina é capaz de simular o pensamento e o comportamento humano. Para verificar essa possibilidade, os avaliadores devem conversar, ao mesmo tempo, com uma pessoa real e com uma máquina.

A ficção científica, gênero pouco presente nos palcos brasileiros, foi escrita por Paulo Santoro em 2004. Ela estreia como parte da programação da Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo –a última montagem desta segunda edição do projeto será "Os Arqueólogos", de Vinicius Calderoni.

PERSPECTIVAS

"O Paulo faz com que os personagens girem em torno do assunto apresentando perspectivas e argumentos muito diferentes", comenta Eric Lenate, que assina a direção de "O Teste de Turing".

Mais do que abordar o experimento e a relação do indivíduo com dispositivos tecnológicos, a vontade do dramaturgo é investigar a própria natureza humana.

"Nosso cérebro funciona como um computador, só que muito mais complexo", diz Santoro. "Porém, o modelo computacional entende que é apenas uma questão de tempo até que uma máquina possa fazer coisas subjetivas que nos parecem exclusivas, como interpretar uma poesia."

Ao problematizar essa e outras questões em torno da capacidade de um robô agir ou não de forma humana, os personagens (Jorge Emil, Rodrigo Fregnan e Felipe Ramos) são mediados por uma funcionária da empresa fictícia (Maria Manoella) –que está fisicamente em cena e também dialoga com uma máquina.

Aos poucos, porém, os três vão se dando conta do real jogo no qual se encontram –e, a partir daqui, mais informações são spoilers.

"Se em 2004 alguém me falasse que essa peça seria montada 12 anos depois, eu ficaria desesperado achando que o tema já seria lugar-comum", afirma Santoro. "Mas as coisas mudaram menos do que eu esperava. E, na verdade, acho que ainda vai demorar muito mais para acontecer."

O TESTE DE TURING
QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 20h; até 7/8
ONDE Centro Cultural SP, r. Vergueiro 1.000, tel. (11) 33974002
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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