Folha de S. Paulo


crítica

De tão desenfreado e sem sentido, novo 'A Era do Gelo' faz rir

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Os roteiristas da animação "A Era do Gelo: O Big Bang" parecem ter trabalhado sob efeito de drogas alucinógenas. Isso poderia explicar a sucessão de desdobramentos absurdos na história do quinto filme da franquia, que estreia nesta quinta (7) no Brasil. É uma trama completamente desenfreada e sem sentido –e aí está a sua graça.

O enredo preserva o trio de personagens que participam desde o filme original, de 2002. O mamute Manny, o tigre-dente-de-sabre Diego e o preguiça Sid voltam, cada um com os seus problemas.

A filha adolescente de Manny planeja se casar com um jovem mamute que ele abomina. Diego e sua tigresa estão insatisfeitos por não terem filhotes. E Sid sofre na solidão, sem encontrar uma fêmea para chamar de sua.

Mas essas dificuldades ficam pequenas diante de um problema maior que vai certamente afetar a todos: um meteoro gigantesco está se aproximando e vai acabar com toda a vida na Terra quando se chocar contra ela.

Aí entra em cena o verdadeiro protagonista do filme: a doninha Buck, que apareceu nos dois filmes anteriores. Vivendo no subsolo do planeta com dinossauros fora de época, Buck sobe à superfície para guiar Manny, Sid e Diego –e suas fêmeas e filhotes e alguns amigos– na busca de evitar a destruição do planeta. E Buck vai enlouquecendo durante a caminhada, tratando uma abóbora como seu... bebê?!

Quem leu este texto até aqui deve estar se perguntando como um pequeno grupo de animais pode interferir na trajetória de um meteoro. Explicar seria um spoiler desagradável. Só é preciso ter a mente aberta para as soluções estapafúrdias que o roteiro reserva ao espectador.

Divulgação
Cena do filme a 'Era do Gelo: O Big Bang'
Cena do filme a 'Era do Gelo: O Big Bang'

Na verdade, há uma artimanha que prepara a plateia para a história delirante. E ela vem com o esquilo Scrat, aquele que sempre passa por apuros na tentativa de conquistar sua noz, principalmente nas cenas iniciais dos filmes da série.

Desta vez, ele não está restrito a uma aparição curtinha. Scrat participa o tempo todo, desde a sequência de abertura, na qual ele descobre uma nave alienígena caída na Terra –e entra nela.

Em sua caça à noz, que insiste em escapar de suas patas, vai apertando botões da nave, até que ela decola para o espaço sideral. E, acredite, os incidentes que ele provoca lá em cima acabam influenciando a configuração que o Sistema Solar tem hoje.

Se o roteiro já está ficando difícil de acompanhar, o que dizer então quando Buck e seus amigos encontram uma comunidade hippie de bichos-grilos pré-históricos? Eles vivem em uma espécie de oásis multicolorido, são vegetarianos e passam horas a fio fazendo posições de ioga sob comando de seu líder, Shangri-Lhama.

Resumindo (ou pelo menos tentando): uma família mamute em crise, uma doninha maluca que conhece astrofísica, um esquilo que pilota disco voador e uma lhama professora de ioga, tudo isso há 12 mil anos. O mais incrível é que as coisas se encaixam, e a trama corre o risco de fazer sentido depois de uma hora e meia.

Algo tão descontrolado e porra-louca que nunca entrará para a lista de animações memoráveis desta era. Mas é realmente engraçado.

A ERA DO GELO: O BIG BANG
(Ice Age: Collision Course)
DIREÇÃO: Mike Thurmeier e Galen T. Chu
PRODUÇÃO: EUA, 2016, livre
QUANDO: estreia nesta quinta (7)


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