Folha de S. Paulo


Poeta Leonardo Fróes fala sobre mato, sexo e Samarco e é aplaudido de pé

Keiny Andrade/Folhapress
Paraty, RJ, 02.07.2016 - FLIP 2016 ILUSTRADA - Mesa 13: encontro com Leonardo Froes. FOTO: Keiny Andrade/Folhapress
O poeta e tradutor Leonardo Fróes em encontro na Flip neste sábado (2)

O poeta Leonardo Fróes, 75, encantou a plateia na manhã deste sábado na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), ao falar e ler seus poemas sobre natureza, mas que, na verdade, "são filosóficos", como disse o próprio.

A tenda dos autores não estava lotada, mas quem foi pareceu ter saído satisfeito. Fróes chegou a ser chamado por uma pessoa da plateia, que enviou um bilhete anônimo ao palco, de "belo, belo, belo".

Em entrevista ao poeta e editor Sergio Cohn, em grade parte responsável pela recuperação da obra de Fróes, explicou por que deixou uma vida badalada de editor para morar no mato, na serra fluminense, aos 30 anos de idade.

"Imagina um moço da cidade pegando numa enxada para plantar um pé de milho. Eu não sabia fazer nada! Eu estava vivendo um caso de amor lindíssimo –com a minha mulher, Regina, com quem vivo até hoje– e achei que precisava ir para lá para realizar minha poesia e também para viver esse caso."

A dupla falou também sobre o toque de sensualidade que marca sua poesia –mesmo quando fala de plantas.

"Não sei se, nesta idade, ainda sou sexual, mas a sensualidade é uma característica básica da minha personalidade. Sou sensual porque sou sensorial, estou participando de um todo. Estou no mundo real tal como ele se oferece para nós à primeira vista."

VIDA DAS ABELHAS

Um aspecto pouco falado de sua obra é sua escrita sobre ecologia. Chegou a ter colunas sobre plantas em dois jornais em uma época em que pouco se falava de ecologia.

"Se eu fosse contar todos os fatos que me mostram que cada bicho tem seu tipo de inteligência, ficaria aqui por horas. A vida sexual das abelhas é uma organização social tão perfeita, não há abelhas corruptas! Talvez a inteligência animal ultrapasse a nossa", disse, e foi aplaudido.

Por sua proximidade com o tema, durante a sessão de perguntas, uma pessoa da plateia perguntou a Fróes o que ele achava do desastre de Mariana –quando o rompimento da barragem da Samarco matou 19 pessoas, destruiu o vilarejo de Bento Rodrigues e devastou o rio Doce até a sua foz, no Espírito Santo.

"Como todo brasileiro de consciência, acho que foi um absurdo completo. A empresa já sabia que havia fissuras na barragem e não tomou providências."

Fróes não quis deixar de comentar também sobre suas traduções –sempre de autores difíceis, como Faulkner, Swift e Goethe.

"A minha escola é de seguir o original, e não mudar o texto. Sempre me senti inferior a ele, como se fosse um instrumentista, o executante da obra, tenho uma partitura e tenho que ser fiel a ela."


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