Folha de S. Paulo


Vinte anos depois, diretor quer atrair novo público com 'Independence Day'

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O mundo mudou muito em 20 anos. As Spice Girls não dominam mais as paradas musicais. Os celulares viraram pequenos computadores que ninguém usa para falar. Os DVDs estão quase extintos. E a Internet uniu (e desuniu) o planeta inteiro. Mas o cineasta Roland Emmerich torce para que a transformação não tenha sido tão radical a ponto de seu "Independence Day: O Ressurgimento", sequência do maior filme de 1996, não se conectar com um novo público.

"Espero que funcione, porque acho que o estilo de humor de 'Independence Day' é o melhor que há para esses tipos de longas espetaculares", afirma Emmerich à Folha. "Acho que a Marvel tem um tom bastante similar ao que imprimi há 20 anos. Veja 'Homem de Ferro', por exemplo, ele não se leva a sério em momento algum. Não estou preocupado em ser muito sério."

Nem precisa. O diretor alemão mais americano que existe está continuando um longa-metragem que custou US$ 75 milhões e rendeu mais de US$ 800 milhões —ajustando à inflação, a bilheteria dele ultrapassaria a marca do US$ 1 bilhão. Ao contrário do que a indústria espera e exige, Emmerich não se rendeu ao dinheiro fácil que essa sequência (ou qualquer uma outra) traria nos anos 1990.

"É estranho, porque não gosto de continuações", admite o cineasta de sucessos como "O Dia Depois de Amanhã" (2004), mas que está numa série de fracassos desde "2012" (2009). "Só topei fazer 'O Ressurgimento' por causa de uma série de eventos na minha vida e porque meus amigos insistiram que eu deveria tentar."

"A tecnologia mudou tanto e, quando a Fox falou comigo sobre comemorar o aniversário de 20 anos do filme, eu falei que a maior coisa que poderíamos fazer era uma sequência de 'Independence Day'. Eles tomaram um susto."

O processo para trazer a história de volta às telas não foi fácil. Emmerich e o cocriador Dean Devlin chegaram a anunciar, em 2009, que tinham escrito um tratamento para mais dois longas baseados no original. Em 2011, a dupla precisou mudar a ideia por causa da recusa de Will Smith, dono do papel do piloto Steven Hiller, que queria US$ 50 milhões pelo trabalho. "Teria sido uma trilogia, mas logo ficou claro que não aconteceria da maneira que eu gostaria", confessa o cineasta. "Então, deixei o projeto de lado novamente."

Emmerich diz que não foi movido por motivos financeiros, apesar de "ter gastado todas as economias para filmar 'Stonewall' [filme de 2015]". Sem Smith, o diretor voltou a se animar com a sequência quando propôs a mistura entre a velha geração de personagens com novos atores, num novo cenário passado em 2016, com a Terra totalmente unida e utilizando tecnologia alienígena em meios de transportes, armas e no cotidiano.

"É uma ideia em potencial para uma nova franquia e o estúdio não precisa mais voltar para Will Smith", conta ele, sem esconder sua mágoa. "Fiquei bastante decepcionado, porque era um bom personagem. Mas ele não queria fazer mais uma ficção científica sobre pais e filhos [Smith fez o fracasso 'Depois da Terra']. Mas é assim que funciona a indústria."

Em "O Ressurgimento", Hiller é lembrado como um herói de guerra que morreu testando os primeiros aviões de combate terráqueos com tecnologia extraterrestre. No seu lugar, surge o filho, Dylan (Jessie T. Usher), também piloto e que mede as habilidades contra o inconsequente Jake (Liam Hemsworth) e a filha do ex-presidente Whitmore (Bill Pullman), Patricia (Maika Monroe).

Entre a velha guarda, além de Bill Pullman, o longa traz o cientista David Levinson (Jeff Goldblum), que virou o diretor da defesa terráquea após a batalha de 1996, e um casal homossexual que muitos não esperavam ver na sequência.

"Não faço um grande caso por causa da sexualidade do personagem, porque acho que é assim que deve ser", explica Emmerich, que é gay assumido. "E, se fizer sucesso, acho que é uma forma de quebrar barreiras. É passo a passo. Se eu for para um estúdio falando que tenho um personagem gay e quero US$ 150 milhões para fazer um filme sobre ele, não vai funcionar."


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