Folha de S. Paulo


análise

Palavra de Parr pesa porque alia vanguarda e pesquisa histórica

Mesmo se Martin Parr tivesse morrido em 1986, ele já teria seu nome marcado na fotografia contemporânea. Naquele ano, o britânico publicou "Last Resort", fotolivro com imagens tomadas no balneário de New Brighton.

Enquanto o cenário sugeria um espaço para momentos de alegria de pobres famílias inglesas, o fotógrafo extraiu das praias um retrato melancólico da classe trabalhadora local: ali, ninguém sorri, há sujeira para todo lado e a obrigação de estar feliz em um final de semana com amigos virou ácido sulfúrico na visão corrosiva de Parr.

A indústria do turismo é tema recorrente em sua obra, embora ele não tenha se limitado ao assunto. O britânico virou uma sumidade não só pelas milhares de cópias tortas de seu olhar irônico que surgiram após o lançamento de "Last Resort", como também pela diversidade de funções que exerce na carreira.

Além de fotógrafo, Parr é curador, pesquisador, colecionador, editor, professor e presidente da Magnum, a mais famosa das agências de fotografia do mundo. Expandiu seus tentáculos de tal maneira que, hoje, é um dos principais elementos inflacionários do pequeno, mas relevante mercado de fotolivros.

Pode apostar: se ele colocou uma obra numa lista de melhores do ano, seu preço terá alguns dólares a mais. Se ele a incluiu em um dos três volumes de "The Photobook: A History", obra na qual, ao lado de Gerry Badger, compila fotolivros importantes para a história da fotografia, adicione mais alguns euros.

A palavra de Parr pesa porque ele não estacionou a fama conquistada a partir dos anos 1970 no próprio passado. Há cinco anos, o britânico de 64 anos elaborou junto a outros pesquisadores o manifesto da pós-fotografia, movimento cujas bases estão na reinterpretação e no reuso de imagens, sobretudo as da internet.

Mas, enquanto acompanha as transformações da fotografia, também faz um importante trabalho de pesquisa histórica. Além de "Photobook: A History", Parr lançou no ano passado a coletânea "The Chinese Photobook", na qual resgata 150 anos de publicações muito pouco conhecidas do país asiático.

Ademais, há a ironia britânica que Parr exala. No final das contas, ele parece fazer tudo isso só para rir de nós.


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