Folha de S. Paulo


Refugiado, poeta sírio descreve cotidiano e guerra pelo Facebook

A guerra civil síria estourava lá fora quando um ferreiro, na cidade de Manbij, resolveu abrir uma janela para o mundo. Em sua página no Facebook, passou a escrever coisas como esta: "O ditador/ não ouve jazz".

Manbij hoje está dominada pelo Estado Islâmico. E o ferreiro, Abud Said, não mais anônimo, hoje é poeta. Seus posts na rede social viraram o livro "O Cara Mais Esperto do Facebook", que ele lança na Flip deste ano.

Said participa, no dia 3 de julho, da mesa "Síria mon amour", ao lado da repórter especial da Folha Patrícia Campos Mello.

"Comecei a escrever sem muitos planos, contando minha vida diária no Facebook, sem qualquer ideia de botar tudo aquilo em um livro."

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O escritor sírio Abud Said Crédito Divulgação/Eran Wolff ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O escritor sírio Abud Said

"A revolução aparece como pano de fundo da minha vida, mas não era meu desejo escrever sobre ela e sim sobre o meu cotidiano."

A guerra civil aparece em textos como "À maneira do regime sírio: todos que não me amam cometerão suicídio" ou "À maneira da mídia síria: todos que não me amam aparecerão em um vídeo com Ariel Sharon".

Em seus posts, o poeta ironiza a vaidade e o exibicionismo das pessoas no Facebook –daí o título do livro. Em seu perfil, Said conta sonhar com "uma tempestade" de notificações" em sua página.

"Nenhum [editor] me descobriu. Eu fiquei famoso nos círculos artísticos árabes", diz o autor. Foi a editora independente alemã mikrotext que projetou Said, ao lançar seus posts em um e-book. Perto do lançamento da edição, na Feira do Livro de Leipzig, os editores perderam o contato com o poeta.

BUSCAS PELO AUTOR

Chegaram a procurá-lo na Síria –e ele só foi encontrado, mais tarde, na fronteira com a Turquia. Sua tradutora, Sandra Hetzl, tentou com as autoridades alemãs uma autorização para o autor entrar no país; mas Said não tinha nem passaporte sírio.

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O rapaz cruzou ilegalmente a fronteira com a Turquia, conseguiu chegar a Alemanha, onde conseguiu asilo e vive até hoje. Said não trabalha mais como ferreiro e está estudando alemão para poder arrumar um emprego. Enquanto isso, vive como colunista da revista "Vice" no país.

Depois que seu irmão morreu no conflito, Said conseguiu convencer a mãe a emigrar com os outros filhos para a Turquia.

Apesar da história de vida, Said se recusa a conversar sobre política. "Não sou jornalista, meu projeto é simples", corta quando questionado pela Folha. Em entrevistas mais antigas, porém, revela uma preocupação: não quer ser porta-voz do povo sírio ou dos refugiados na Europa. Acha que eles sim precisam ser ouvidos.


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