Folha de S. Paulo


Ocupado por atores e diretores, Teatro de Arena atualiza peça de protesto

Marlene Bergamo/Folhapress
ILUSTRADA- SAO PAULO - SP - O teatro Arena foi ocupado ontem por vários artistas, e diretores de teatro que durante 48 horas farao performances e produzirao espetaculos que discutem a atual situaçao política do Brasil, com a Presidenta Dilma afastada do cargo de presidente. Na foto, o ATO I Impeachment, dirigido por Claudia Shapira e Marcos Bulhoes - 13/06/2016 - Foto Marlene Bergamo/Folhapress - 017
Atriz em cena de 'Impeachment'

Conhecido reduto de artistas que se alinharam aos movimentos estudantis e à resistência política no período do regime militar, o Teatro de Arena foi ocupado por um grupo de atores e diretores teatrais na noite de domingo (12).

A sala, que fica no centro de São Paulo e tem cerca de 90 lugares, pertence à Funarte (Fundação Nacional de Artes), autarquia do governo federal cujas sedes pelo país foram ocupadas em protesto contra o governo Temer.

Entre os artistas que participaram da ação estão Cibele Forjaz, Cláudia Schapiro, Marcos Bulhões e Luaa Gabanini. À Folha, eles disseram que o ato terá duração de dois dia, apenas –portanto, deve acabar ainda nesta terça (14).

Batizada de "Arena Cont(r)a o Golpe", frase estampada na fachada do imóvel, o evento inclui encenações teatrais e debates. O título faz referência à série de peças exibidas naquele mesmo espaço nos anos 1960, como "Arena Conta Zumbi" (1965) e "Arena conta Tiradentes" (1967), ambas escritas por Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal.

Segundo Bulhões e Schapiro, o grupo esperou o fim da sessão de "Os Justos", espetáculo oficialmente em cartaz na sala. Eles aproveitaram os minutos em que as portas do teatro se abriram para a saída do público e entraram.

Um funcionário do teatro que pediu anonimato disse já ter se habituado às ocupações que se propagaram por imóveis da Funarte em todo o país. Ele afirma que as ações são pacíficas e que o grupo é "muito zen". O Ministério da Cultura diz que não irá pedir reintegração de posse.

Na grade de atividades de segunda (13) estava o ato "Impeachment", exibido às 14h, com direção de Bulhões e Schapiro. A encenação começou com uma atriz tirando a bandeira nacional de dentro de sua vagina. Bulhões diz que o teatro grotesco, com suas variações absurdas, foi uma referência. A narrativa tem como centro as votações na Câmara e no Senado que levaram ao afastamento de Dilma Rousseff da Presidência.

Houve um intervalo de uma hora e, às 17h, um encontro com cinco mulheres que militaram contra a ditadura. No ato "Mulheres Contam o Golpe", estava presente Amelinha Teles, que contou ter sido torturada por Carlos Alberto Brilhante Ustra, homenageado pelo deputado Jair Bolsonaro na votação do impeachment.

Teles defendeu para uma plateia de 40 pessoas que o afastamento de Dilma teve forte teor misógino e machista. "Quantas vezes eu vi Dilma ser chamada de vagabunda. As mulheres não podem dar as costas. Em 1964, estávamos desorganizadas. Na época eu só militei com homens."

A professora Tereza Lajolo, ex-vereadora pelo PT, fez também críticas ao partido. "O ProUni é um dinheiro dado para essas coisas doidas chamadas Unip ou Uninove. Em nenhum momento nós abrimos a boca contra o ProUni e dissemos 'nós queremos esse dinheiro para as universidades públicas'", disse, a respeito do programas federal de subsídio ao estudo.

Na terça-feira, às 14h, haverá encenação intitulada "O Novelão dos Vazamentos sobre a Lava Jato". As sessões são gratuitas.


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