Folha de S. Paulo


É inadmissível um ministro da Cultura ofender artistas, diz Sonia Braga

Sonia Braga rebateu nesta terça-feira (7), em um texto publicado em seu Facebook, as críticas do novo ministro da Cultura, Marcelo Calero, ao protesto anti-impeachment feito pela equipe do filme "Aquarius" durante o Festival de Cannes, em maio. Para ela, a postura do chefe da pasta é "inadmissível".

Sonia, os atores Humberto Carrão e Maeve Jinkings, o diretor Kleber Mendonça Filho e outros envolvidos com a produção, que disputou a Palma de Ouro em Cannes, levantaram cartazes que acusavam de golpe o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) durante a sessão de gala do longa na mostra.

Em entrevista ao programa "Preto no Branco" (Canal Brasil), no domingo (5), Calero classificou o ato como "quase infantil" e "até um pouco totalitário", porque pretende que uma "visão específica cubra a imagem de um país inteiro".

"Isso é desconhecimento do que significa plena democracia. Se estivéssemos falando em nome de todos não precisaríamos, evidentemente, fazer o ato", respondeu a atriz.

"O ministro da Cultura ofendendo artistas é inadmissível. O senhor está nesse cargo para dialogar, para nos ajudar, para fazer a ponte com quem nos explora."

Antes, ao abrir o texto, a atriz afirmou que, por ter 33 anos, o ministro "não deve ainda ter tido tempo de aprender" sobre os problemas e direitos da classe artística.

"Na época da abertura [política, nos anos finais da ditadura militar no Brasil], os artistas não tinham sequer uma lei que regulasse a profissão. Essa lei foi promulgada em 1978, depois de muita luta, da qual tive a honra de participar. Naquela época, acredito, o senhor Marcelo ainda não havia nascido."

Ela conclui lembrando que "Aquarius" foi aclamado pela crítica internacional, o que é um "ponto grande para a imagem da cultura brasileira no exterior".

KLEBER MENDONÇA

Nesta segunda (6), Kleber Mendonça também respondeu as críticas do ministro em uma publicação no Facebook. Ele postou uma reportagem do UOL, empresa do Grupo Folha, sobre um editorial publicado pelo jornal "The New York Times" que questiona o compromisso do presidente interino, Michel Temer (PMDB), em combater a corrupção.

"Caro ministro Calero, talvez isso aqui redefina sua noção de o nosso país passar vergonha internacionalmente. O 'The New York Times' é o mesmo jornal de influência mundial que incluiu meu filme anterior, 'O Som ao Redor', fruto do MinC, entre os 10 melhores de 2012, um orgulho para a cultura brasileira", escreveu.

Em entrevista à Folha após a manifestação em Cannes, o cineasta afirmou que o país vive numa democracia e que tem o direito de expressar o que acha sobre temas políticos. "O protesto em Cannes foi um gesto simbólico. O país está dividido", avaliou.


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