Folha de S. Paulo


Globo aposta em releitura de 'Sassaricando' com feminismo

"Olha o mamão! Olha o melão!" Equilibrada sobre um caixote de madeira, Mariana Ximenes sobe nos tamancos da personagem Tancinha, eternizada por Claudia Raia na novela "Sassaricando"(1987). Tenta vender suas frutas em uma típica feira paulistana, montada nos Estúdios Globo (antigo Projac), no Rio.

A atriz de 34 anos reviverá a voluptuosa feirante em "Haja Coração", releitura de Daniel Ortiz para o folhetim de Silvio de Abreu. A estreia da trama ocorrerá numa terça (31), algo inédito para o canal.

A emissora tem feito questão de dizer que não se trata de um remake, mas de uma releitura. Em alguns momentos, porém, a direção parece querer celebrar o original: Fred Mayrink pede a Ximenes que reforce o reclame dos mamões e melões para marcar a homenagem a Claudia Raia.

A Tancinha de "Haja Coração" continua intempestiva, mas menos desajeitada, e se aproxima mais de uma heroína independente.

A maior força das personagens femininas não se restringe à feirante. "Por ser uma releitura de uma novela feita há 30 anos, a mulher ganhou um poder e uma independência que talvez naquela época ela não tivesse tanto", diz Ortiz.

Em "Sassaricando", a personagem que agora é de Marisa Orth vivia para os filhos. "Em 'Haja Coração', não. Ela vai se envolver com outro homem, não vai ficar só chorando pelo marido que desapareceu."

As atualizações transformaram Leonora Lammar (Ellen Rocche) em uma ex-BBB e a mimada Fedora Abdala (Tatá Werneck) em uma "it girl" que quer ser a garota com mais seguidores no Brasil.

"Haja Coração" substitui "Totalmente Demais", atualmente a maior audiência da Globo, superando inclusive "Velho Chico", novela das 21h. O sucesso do folhetim, principalmente entre os jovens, está no radar de Ortiz, que também cita o sucesso de "Êta Mundo Bom". "Tem um público que podia estar no Facebook, mas essas novelas conseguiram se comunicar."

Ortiz trabalha sob a batuta de Silvio de Abreu, diretor de teledramaturgia da Globo. No cargo desde o final de 2014, Abreu tem recebido críticas de que não aprova projetos ousados. Ele discorda: "Só para citar alguns exemplos, tivemos 'Sete Vidas', 'Ligações Perigosas' e 'Velho Chico'. Sempre existirá espaço para uma boa história, seja ela contada de forma clássica ou inovadora", comenta.


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