Folha de S. Paulo


Latino-americanos são protagonistas da Bienal de Arquitetura de Veneza

Vincenzo Pinto/AFP
A picture shows a work built using debris from Biennale Arte 2015 made by architect Alejandro Aravena presented on May 25, 2016 during the opening of the 15th International Architecture Exhibition in Venice. The Biennale, entitled
Trabalho exposto na 15ª Bienal de Arquitetura de Veneza, curada pelo chileno Alejandro Aravena

A arquitetura da América Latina, desde a informal e anônima até aquela capaz de transformar cidades como Medellín ou levar escolas à selva amazônica peruana, é a protagonista da 15ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza.

A prestigiosa competição internacional, que abre suas portas ao público neste sábado (28), é uma homenagem à criatividade, versatilidade e experiência dos arquitetos latino-americanos, capazes de combinar, com beleza, as novas tecnologias à ecologia e aos "materiais pobres".

Nos espaços do Arsenale, uma das alas principais da mostra, e dos Jardins da Bienal estão os projetos dos arquitetos colombianos Simón Vélez e Giancarlo Mazzanti.

Enquanto Vélez apresenta seu trabalho em bambu, o aço dos pobres, com uma estrutura que foi pendurada em um teto na zona central dos Jardins, Mazzanti participa com "Trustitcs", uma instalação que funciona como um jogo que reage ao público e conta, por meio de vídeos, como a comunidade se apropria de espaços públicos de bairros pobres de Medellín, Bogotá e Santa Marta.

Afastados do luxo e do monumental, o Grupo Talca, formado na escola chilena de arquitetura da Universidade de Talca, um ponto de referência para a área, apresenta seu mirante de madeira, um cubo desmontado e logo montado frente às aprazíveis águas de um lago de Veneza, idealizado e realizado pela comunidade para desenvolver o turismo ecológico em Pinohuacho, entre bosques perdidos dos Andes chilenos.

"Levamos a arquitetura aonde o arquiteto não chega", explica Rodrigo Sheward, que, junto a Martín Solar, foi convidado pelo seu compatriota Alejandro Aravena, diretor artístico da Bienal, para mostrar seus projetos de grande impacto social.

A experiência da escola de Talca inspira o curador do elegante pavilhão chileno, o professor Juan Román, diretor da Escola de Arquitetura da Universidade de Talca, que selecionou 15 projetos de arquitetura rural.

"São projetos realizados por estudantes dessa zona para conseguir a graduação em arquitetura. A maioria é de casos com recursos escassos, e eles não conseguiram nem mesmo ir a Veneza. Trata-se de estudantes que estão ligados cultural e economicamente à terra, o que fica expresso em suas obras", explica Román, premiado em 2015 com o Global Award de arquitetura sustentável, concedido pela Fundação Locus de Paris.

Uma cortina de bolsas de plástico transparente cobre as paredes do pavilhão chileno, e é possível escutar assobios dos ventos andinos, submergindo o visitante ao tema da Bienal: a urgência de uma arquitetura mais humana e sustentável.

No interior da mostra, estão expostas 15 delicadas maquetes de casas e outras edificações desenhadas pelos estudantes, que incluem em seus projetos materiais locais e até mesmo resíduos agrícolas e florestais.

Trata-se de uma "arquitetura funcional pensada para melhorar de maneira concreta a qualidade de vida dos habitantes. O júri que nos selecionou foi muito corajoso", diz Román, pouco antes de o ministro de Cultura do Chile, Ernesto Ottone, inaugurar o pavilhão.

O grande evento em Veneza também apresenta projetos e ideias de Argentina e Peru, representados pelo chamado Plano Florestal para a construção de centenas de escolas modulares na floresta amazônica.

México, Uruguai, Venezuela, Equador e Paraguai também dão um toque latino e uma visão mais social ao encontro internacional. Além disso, o Pritzker brasileiro Paulo Mendes da Rocha receberá neste sábado (28) o Leão de Ouro de 2016 pelo conjunto de sua obra.


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