Folha de S. Paulo


Bixiga 70 leva seu som instrumental dançante ao Festival de Glastonbury

Com uma dezena de palcos e 135 mil ingressos vendidos por edição, sempre esgotados com meses de antecedência, o Festival de Glastonbury, na Inglaterra, é considerado o maior evento de música ao ar livre do mundo. Este ano, serão 362 apresentações em palcos, sem contar DJ sets e shows em lounges montados na área. E uma dessas atrações é de São Paulo.

O Bixiga 70 tocará no dia 24 de junho neste festival historicamente não muito receptivo a artistas do Brasil ou da América Latina, que aparecem timidamente entre os convidados a cada edição. No ano passado, o cantor carioca Marcos Valle se apresentou no evento.

O Glastonbury 2016 vai de 22 a 26 de junho, com seu enorme line-uo puxado por Muse, Adele e Coldplay.

Marcelo Justo - 13.abr.2016/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL: Integrantes da banda Bixiga 70 posam em frete ao estudio de ensaio na Bela Vista, no centro de SP. O grupo está lançando um disco de vinil oficialmente na Record Store Day (encontro de fãs de vinil) que aconcete neste sábado no MISS. (Foto Marcelo Justo - 13.abr.2016/Folhapress) (ILUSTRADA)
Integrantes do Bixiga 70 posam na rua 13 de Maio, na região central de São Paulo, onde têm estúdio

A carreira do Bixiga 70 na Europa conta com apoio do selo alemão Glitterbeat, que lançou no ano passado por lá o terceiro álbum do grupo (os discos são conhecidos pelos fãs por "um", "dois" e "três"). Neste ano, a banda soltou um vinil de versões dub de faixas do último álbum. É o disco "três e meio", brincam os integrantes durante visita do repórter ao estúdio Traquitana, o QG do grupo na rua 13 de Maio, número 70, no bairro do Bixiga.

"Na verdade, nós temos um triângulo de locais de trabalho no centro. O Traquitana, o Studio Copan e a casa do grafiteiro MZK, junto da praça da República", explica o guitarrista e tecladista Mauricio Fleury. É no Copan que trabalha o produtor Victor Rice, parceiro da banda desde o início, e MZK faz todas as capas dos lançamentos, criando a forte identidade visual do Bixiga 70.

O grupo é, literalmente, uma "big band". Além de Fleury, fazem parte Cris Scabello (guitarra), Rômulo (percussão), Daniel Gralha (trompete), Marcelo Dworecki (baixo), Decio 7 (bateria), Cuca Ferreira (sax barítono e flauta), Gustavo Cék (percussão), Daniel Nogueira (sax tenor) e Douglas Antunes (trombone).

Os músicos destacam a promoção eficiente feita pelo selo alemão, "encabeçado pelo Chris Eckman, que era do grupo Walkabouts, um cara que tem noção de como as coisas funcionam do lado dos artistas", diz Scabello. "Sabe colocar a música em seu devido lugar."

Mas Fleury avalia que os investimentos da banda na Europa antes de assinar com o selo, indo para shows por conta própria, deram frutos. "Quando fomos tocar na Holanda pela terceira ou quarta vez, encontramos uma banda de lá que tocava músicas nossas. É bom travar relações com pessoas numa cena mundial, assumindo nosso lugar de banda instrumental dançante."

O tal disco "três e meio" tem um nome pomposo e autoexplicativo, "The Copan Connection: Bixiga 70 Meets Victor Rice". A banda tem desde sempre a cultura do dub. "No primeiro compacto, o lado B já era uma versão dub da música principal, gostamos de desconstruir desde o começo", conta Decio. "Vem dessa conexão que temos com música brasileira, africana, jamaicana."

"Copan Connection" foi lançado em vinil, com tiragem de 1.000 cópias, para ser vendido fisicamente. Seu lançamento foi em 16 de abril, o Record Store Day. Já é tradição artistas pelo mundo lançarem LPs ou fitas cassete especialmente para a data que presta homenagem às lojas de discos.

O Bixiga 70 crê que seu público tem uma relação forte com o álbum físico. "Cada disco nasce de uma necessidade. No primeiro, a vontade de colocar na rua, era preciso ter o disco para legitimar o grupo junto aos promotores de show", diz Decio. "No segundo, estávamos tocando muita coisa nova e era bom registrar tudo. No terceiro, foi diferente. A gente se trancou no estúdio sem nada e resolvemos fazer."

Para Cuca, o vinil dá um feedback, até internacional. "Cada álbum é uma fotografia do momento. Nossa música é instrumental, então faz muito sentido contar essa história nos álbuns. E, junto ao mercado de shows, é o disco que estabelece que a banda existe."

Scabello diz que todos na banda tiveram o privilégio de pertencer à última geração pré-internet. "Todo mundo cresceu escutando e colecionando disco, o Mauricio ainda coleciona. Quando viajamos para a gringa, sempre compramos coisas. A gente valoriza muito esse suporte físico."

Os discos do Bixiga 70, incluindo "Copan Connection", podem ser encontrados na loja Patuá Discos, r.. Fidalga, 516, Vila Madalena, São Paulo, tel. (11) 2306-1647.


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