Folha de S. Paulo


Bryan Cranston interpreta 'o mais gentil e cruel' presidente dos EUA

Hilary Bronwyn Gayle/HBO
O ator Bryan Cranston, na pele do ex-presidente americano Lyndon B. Johnson, em cena do filme 'Até o Fim', que será exibido a partir de hoje na HBO
O ator Bryan Cranston, na pele do ex-presidente americano Lyndon B. Johnson, em 'Até o Fim'

Com quatro prêmios Emmy por sua atuação em "Breaking Bad", sem saber para onde ir em seguida, Bryan Cranston foi parar na Broadway, e de lá direto para a Casa Branca.

"Viciado" na série de televisão, Barack Obama lhe serviu biscoitos naquela tarde de abril. O ator elogiou sua morada, e o presidente respondeu: "Estou apenas alugando. Só quero garantir que me devolvam o cheque caução".

Cranston protagoniza "Até o Fim", que estreia nesta segunda-feira (23) na HBO. Baseada em peça homônima que lhe rendeu um Tony em 2014, é a cinebiografia de outro inquilino do endereço.

Lyndon B. Johnson (1908-73), o LBJ, virou o 36º presidente americano após o assassinato, em 1963, de John F. Kennedy –que não gostava muito desse vice nada decorativo.

Político de humor grosseiro, que pedia secretárias "com mais carne" e despachava com assistentes da privada (a porta do banheiro aberta): foi essa caricatura do texano que fez história ao proibir a segregação racial em espaços públicos, com a assinatura da Lei dos Direitos Civis, em 1964.

Cranston tinha 12 anos. Mais moço, viajou com a mãe pelo Estado de LBJ. No caminho, viu uma fonte de água com o aviso: "Pessoas de cor".

A mãe, lembra, deu um chilique: "Não beba!". Ele ficou sem entender. "Achei que, sei lá, fosse água com sabor", diz em entrevista a um grupo de jornalistas, Folha inclusa.

Eram tempos amargos, e LBJ soube manipulá-los como poucos. Mais do que a luta pessoal, era o cálculo político que o interessava. No filme, Johnson deixa Martin Luther King esperando na linha, e congressistas brancos discutem política racial enquanto negros engraxam seus sapatos.

"As 11 pessoas mais interessantes que conheci são Lyndon Johnson", diz Cranston, citando um antigo assistente do ex-presidente.

Para Robert Schenkkan, que adaptou seu roteiro da Broadway para a TV, o segundo mais alto presidente dos EUA (1,92 m, um centímetro abaixo de Abraham Lincoln) conseguia ser "o mais gentil e cruel" e era "shakespeariano pelo tamanho de suas ambições". Gostemos ou não, "vivemos no mundo de LBJ", diz.

Em sua Presidência (1963-69), assinou, aos pés da Estátua da Liberdade, uma revolucionária lei de imigração. No fim, desgastado pela Guerra do Vietnã, desistiu da reeleição.

Também "muito shakespeariano", para Cranston, é o provável candidato republicano à sucessão de Obama, Donald Trump. Diz que "amaria" interpretar o empresário na ficção, mas morre de medo de vê-lo eleito na vida real.

Cranston foi o primeiro lugar numa classe de aspirantes a policial e só virou ator graças à "libido de um garoto de 19 anos" –descobriu que podia simular "uns pegas" nas companheiras de elenco.

O "valentão do colégio": é esse, segundo Cranston, o papel da vida de Trump, que chama mexicanos de "estupradores", quer banir muçulmanos dos EUA e tem apelidos para desafetos –do Pequeno Marco (o senador Marco Rubio) ao Jeb Baixa Energia (o ex-governador Jeb Bush).

Colegas têm opiniões menos diplomáticas sobre o magnata. "Posso falar palavrão?" pede Bradley Whitford, que interpreta Hubert Humphrey, vice de LBJ na eleição de 1964. "Deus é um roteirista de merda. Se escrevessem isso em 'The West Wing' [série na qual viveu um articulador político], ia parecer irreal."

A jornalista ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER viajou a convite da HBO.

ATÉ O FIM
QUANDO: seg. (23), às 22h, qua. (25), às 16h35, e sáb. (28), às 10h25
ONDE: na HBO


Endereço da página: