Folha de S. Paulo


Emissoras acompanham streaming e apostam em 'revivals' de séries

A TV enfrenta um futuro incerto, desconhecido. Mas, na próxima temporada, vai apostar grande no passado.

O hábil agente secreto MacGyver vai voltar à CBS três décadas depois de estrear. "Contos da Cripta", seriado da HBO que estreou em 1989, será ressuscitado na TNT (com a mão de M. Night Shyamalan). "MTV Unplugged", cuja época áurea com Eric Clapton foi nos anos 1990, está de volta, assim como "24 Horas", "Prison Break" e "Gilmore Girls".

"Hoje os seriados nunca morrem", disse David Nevins, diretor-executivo do Showtime. Ele tem seu próprio revival a caminho: ajudou a convencer David Lynch a criar um novo capítulo de "Twin Peaks", o seriado cult que saiu do ar há um quarto de século.

Poderíamos dizer que é o fetiche da familiaridade. A previsão é que os canais anunciem novas adaptações de franquias de sucesso.

Reprodução
Cena de 'Contos de Cripta', seriado de 1989 da HBO que será ressuscitado pela TNT
Cena de 'Contos de Cripta', seriado de 1989 da HBO que será ressuscitado pela TNT

As novidades não se limitam aos seriados de TV, abrangendo também filmes como "O Exorcista", "Dia de Treinamento", "Busca Implacável" e, possivelmente, "Segundas Intenções", com Sarah Michelle Gellar retomando o papel que fez no original de 1999.

Com cerca de 400 séries tendo ido ao ar no ano passado, o reconhecimento de nome pode oferecer uma vantagem crucial. E os serviços de streaming têm revelado novo interesse por títulos mais velhos.

"Não estamos abrindo mão de ideias originais", disse David Madden, presidente de entretenimento da Fox. "Isto dito, há muitas séries aí fora. E, quando temos um título que as pessoas reconhecem, valorizam e apreciam, queremos tirar proveito disso."

Programas conhecidos podem atrair a atenção dos fãs já existentes, reduzir custos de divulgação e atrair um mercado internacional cada vez mais importante (os franceses, por exemplo, são fãs de "Prison Break", disse Madden).

Mas não há garantias. O "revival" de "Arquivo X" (Fox) foi uma das séries mais elogiadas da temporada, mas a baixa audiência levou ao cancelamento de "Minority Report" (Fox), baseado no filme de ficção científica com Tom Cruise", e de "A Hora do Rush" (CBS). A ABC também cancelará seu "revival" de "Os Muppets".

E nem todos os revivals são iguais. Nevins disse que optou por um novo "Twin Peaks" apenas porque Lynch concordou em participar. David Duchovny e Gillian Anderson protagonizam o novo "Arquivo X", mas Jackie Chan e Chris Tucker não estavam em "A Hora do Rush".

O impulso dos revivals é em parte fruto da ascensão de Netflix, Hulu e Amazon Video, com os quais os espectadores estão redescobrindo séries.

E o público gosta dos clássicos. "Friends" está sendo um sucesso inesperado na Netflix, que também levou ao mundo "Fuller House", uma sequência de "Três É Demais". A Hulu pagou quase US$ 1 milhão por capítulo para transmitir "Seinfeld" em streaming.

Um antropólogo social poderia se perguntar se a onda de saudosismo da TV pode ser explicada por espectadores que procuram algo conhecido em meio a um tempo cheio de incertezas e percalços.

Mas para Martin Kaplan, diretor do Centro Norman Lear para a mídia e a sociedade, na University of Southern Califórnia, o saudosismo pode ser dos estúdios. "Não há nada que ajude mais um programador do que um título que já tenha reconhecimento de marca embutido."


Endereço da página: