Folha de S. Paulo


'Amores Urbanos' faz retrato de crises, agruras e frustrações dos 30 anos

Três jovens se rendem ao sofá da balada. Abatidos, sofrem por amor e bebem além da conta. Um deles se força a dançar e puxa as duas amigas. Juntos, eles tocam a vida.

Em"Amores Urbanos", Julia, Diego e Micaela vivem prazeres e agruras de ser jovem, relativamente bem de vida e um pouco infeliz aos 30.

O filme marca a estreia da diretora Vera Egito em longas. Até então ela havia lançado curtas –em 2009, levou "Espalhadas pelo Ar" e "Elo" à Semana da Crítica, mostra paralela de Cannes. "Meus amigos da mesma época já haviam feito o primeiro longa, e senti que tinha perdido o bonde", diz. "De repente você tem 30 anos, o que idealizou não ocorreu e precisa agir."

Divulgação
Maria Laura Nogueira (à esq.), Renata Gaspar e Thiago Pethit em cena de
Maria Laura Nogueira (à esq.), Renata Gaspar e Thiago Pethit em "Amores Urbanos", de Vera Egito

Ela agiu. Terminou o roteiro em três meses e chamou amigos para fazer cinema e "agitar essa vida besta".

No papel de Julia, protagonista deprimida que coleciona fracassos amorosos, a atriz Maria Laura Nogueira diz não se identificar com a personagem, embora compreenda seus dramas. "Tive medo de a acharem muito chata", confessa. "Não é culpa dela –é geracional. Os pais dos anos 1970 quiseram dar a liberdade que não tinham, e esse excesso é um pouco confuso."

Já o cantor Thiago Pethit voltou à antiga carreira de ator para viver Diego, jovem gay incapaz de engatar um relacionamento sério e lidar com a família que o rejeitou.

"A crise dos 30 só faz sentido para nós, que levamos o peso dos nossos pais, de termos tudo resolvido", afirma ele. "As próximas gerações chegarão aos 30 sabendo que isso não quer dizer nada, tentando encontrar novos exemplos sociais para descobrir como sonhar um novo século."

Limbo geracional

Comum nos EUA, onde séries como "Girls", protagonizada por Lena Dunham, fazem sucesso estrondoso, o retrato do limbo entre o fim da juventude e o começo da maturidade não é tão comum por aqui.

"Isso acontece porque o Brasil tem uma classe média menor. Temos outros temas [mais importantes], dramas sociais e políticos muito fortes", argumenta a diretora. "O filme fala de um grupo muito especifico, e a grande parte do país vive outra realidade."


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