Folha de S. Paulo


crítica

Atuação e clima de mistério dão graça ao horror polonês 'Demon'

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Em "Demon", o casamento pode se tornar uma desgraça. Ainda mais quando o noivo é possuído por uma alma maliciosa, sofre convulsões na pista de dança e os convidados não largam por nada os copos de vodca. Estamos diante de um filme de horror?

Só depois de um tempo de projeção, percebe-se o humor absurdo injetado na história trágica contada por Marcin Wrona. Em seu terceiro longa, o polonês nos faz lembrar seu genial conterrâneo Roman Polanski, sobretudo na mistura hábil de gêneros.

No folclore judeu, "dybbuk" é a alma que se apodera de um vivo com o objetivo de terminar algo interrompido. Essa é a premissa de "Demon", cujo roteiro é uma adaptação da peça "Adherence", de Piotr Rowicki.

Vítima da possessão, Piotr (Itay Tiran) é um jovem que viaja ao interior da Polônia para se casar com Zaneta (Agnieszka Zulewska). O local escolhido da cerimônia, uma casa decrépita que pertenceu aos avós da moça, guarda memória de uma bela menina que desapareceu na Segunda Guerra Mundial. A sombra do Holocausto paira sobre o lugar.

Um clima intrigante domina o protagonista. Piotr atordoa-se ao ver ossadas num buraco no jardim da propriedade, perde a aliança no meio da cerimônia e aparece, sem motivo, com as mãos sujas de barro. Na hora do discurso, numa situação embaraçosa, chega a trocar o nome da mulher.

Divulgação
O Itay Tiran em cena do longa 'Demon'
O Itay Tiran em cena do longa 'Demon'

Enquanto isso, todos celebram, alheios à tensão que se desenrola entre os noivos. Para distrair os convidados, o pai de Zaneta (Andrzej Grabowski, na atuação mais cômica do filme) age como um mestre de cerimônias bufão, tentando manter as aparências de um casamento em ruína.

A situação passa a ser tão maluca, com drama, comédia e terror dançando em sintonia, que uma atmosfera de sonho (ou melhor, pesadelo) toma conta da trama.

O que começa num tom realista termina quase sobrenatural. Não espere sustos fáceis, tampouco cenas de exorcismo comuns em filmes de possessão. Está no clima misterioso –e na vigorosa interpretação do ator Itay Tiran– a graça desta obra.

"Demon" estreia depois de um lastimável episódio ocorrido em setembro de 2015 durante o Gdynia Film Festival, na Polônia. Momentos antes da exibição de seu filme, o diretor foi encontrado morto, aos 42 anos, no quarto de seu hotel. Era considerado um dos nomes mais promissores do cinema local pelos críticos poloneses.

DEMON
DIREÇÃO: Marcin Wrona
ELENCO: Itay Tiran, Agnieszka Zulewska, Andrzej Grabowski
PRODUÇÃO: Polônia/Israel, 2015, 14 anos
QUANDO: estreia nesta quinta (12)


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