Folha de S. Paulo


Elisa Bracher contrasta esculturas 'severas' e desenhos 'fluidos' no Rio

Do lado de fora, uma enorme construção de taipa de pilão reduz a miniaturas frágeis tudo que está ao seu redor. Do lado de dentro, uma série de desenhos, delicados e translúcidos, são o avesso daquela potência, um mergulho em traços fluidos e avermelhados, para não dizer femininos.

Elisa Bracher, artista que agora ocupa todo o térreo do Paço Imperial, no Rio, parece fazer um desvio. Depois de se firmar com obras monumentais, com toras de madeira e cabos de aço, ela revela aqui um novo lado de seu trabalho.

"Tive muito um desejo de me afastar da solução geométrica, daquela secura e limpeza", diz Bracher. "Era a vontade de estar num universo mais quente, redondo, barroco."

Esses dois universos, no entanto, agora ressurgem lado a lado, às vezes no mesmo trabalho, como nas esculturas em que troncos de árvore têm ao mesmo tempo as marcas e manchas da natureza e retalhos precisos de formas geométricas, criando uma fricção entre forma natural e desenho, vontade e acidente.

Mas é no jogo de escalas, entre o templo de taipa de pilão lá fora e os desenhos suspensos do teto que parecem flutuar na galeria, que fica mais nítida a oposição entre essas coisas "severas e fluidas".

Nas cores e na ordem dos desenhos, que começam com traços de vermelho vivo mais perto da entrada e terminam, no fundo do espaço, em linhas e riscos esbranquiçados, está a chave desse contraste agora mais aflorado na obra de Bracher, como se uma onda escarlate invadisse o museu deixando só respingos na ala final.

Mesmo na lógica interna desses desenhos, sempre com um fundo cor de pele e contornos mais avermelhados na superfície, como carne e músculos que se agitam, a escala também parece oscilar entre o plano infinito das galáxias e o microscópico das células sanguíneas.

Nesse sentido, Bracher mostra aqui uma anatomia desfeita, seja ela de planetas e astros em colisão e turbilhões atmosféricos ou organismos vivos invisíveis a olho nu.

"Tem horas que essa série é mais corpórea e outras em que ela é mais arquitetônica, rígida", diz a artista. "Era um esforço meu de não fechar demais num caminho, numa solução plástica. Tem uma coisa de corpo humano, de flor, de feminilidade. Nunca mostrei desenhos com essa força."

ELISA BRACHER
QUANDO de ter. a dom., das 12h às 19h; até 29/5
ONDE Paço Imperial, pça. 15 de Novembro, 48, centro, Rio, tel. (21) 2215-2093
QUANTO grátis


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