Folha de S. Paulo


Tarsila do Amaral ganhará 1ª grande retrospectiva nos Estados Unidos

Divulgação
Artes Plásticas: a pintura
A pintura "Abaporu" (1928), de Tarsila do Amaral, que pertence ao acervo do Malba, em Buenos Aires

Uma nova visão sobre Tarsila do Amaral deve começar pelos clássicos. No ano que vem, a modernista brasileira terá sua primeira grande retrospectiva nos Estados Unidos, que começa em outubro no Art Institute of Chicago e viaja, em fevereiro de 2018, para o MoMA, em Nova York.

Na lista com cerca de cem obras estão os maiores marcos do trabalho de Tarsila, entre eles "Antropofagia" e "A Negra", embora nem todas as telas estejam confirmadas –os museus ainda negociam empréstimos com instituições como a Pinacoteca, o MAC e o Malba, de Buenos Aires, onde está o "Abaporu", um dos quadros mais célebres da artista, morta aos 86, em 1973.

Luis Pérez-Oramas, curador de arte latino-americana do MoMA, que esteve à frente da Bienal de São Paulo há quatro anos, e Stephanie d'Alessandro, do museu de Chicago, são os responsáveis pela mostra da artista ainda pouco conhecida nos EUA, o que justifica a seleção de suas telas "emblemáticas", em especial da fase antropofágica dos anos 1920, para a mostra.

"Será uma forma de apresentar a artista e também o nascimento e a consolidação do modernismo brasileiro", escrevem os curadores, em entrevista por e-mail. "É lógico focarmos Tarsila neste momento crucial em que os museus estão buscando novas vozes e perspectivas, expandindo aquilo que entendemos como 'arte moderna'."

No início deste ano, Pérez-Oramas e D'Alessandro estiveram em São Paulo para pesquisar sobre a pintora. Também foram à casa em que Tarsila nasceu, no interior paulista, na tentativa de entender o universo de onde saíram muitas de suas composições.

BELA E PROBLEMÁTICA

De acordo com os curadores, a artista é "um exemplo brilhante de deslocamento e transformação". "Ela encarnou uma forma simbólica de antropofagia e se tornou uma modernista 'mainstream' no Brasil usando elementos que os modernistas da Europa jamais reconheceriam."

Tarsila seria, no fundo, um caso "belo e 'problemático', que não pode ser julgado seguindo os padrões do cânone moderno". Nesse sentido, os museus americanos, que vêm exaltando artistas contemporâneos do Brasil como Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape, agora entram numa investigação da modernidade surgida no país, a base histórica daquilo que uma parte do público americano já conhece.

Enquanto tentam lançar Tarsila, também parece haver uma preocupação em ir além da superfície dos quadros. Pérez-Oramas e D'Alessandro chamam suas telas de "ícones do modernismo latino-americano", que, à primeira vista, poderiam causar uma sensação de déjà-vu, de tanto que já foram reproduzidas em livros.

Num olhar mais de perto, no entanto, dizem ter visto "refinamento e equilíbrio" surpreendente em suas obras.

Um diálogo entre Tarsila e artistas americanos como Georgia O'Keeffe, que, na visão dos curadores, também adaptou o cânone moderno a uma experiência particular com a paisagem americana, também pode ganhar novo fôlego nos Estados Unidos, turbinando as tentativas de redefinir a modernidade na era da globalização.

"No MoMA, venho trabalhando para trazer à tona importantes artistas do modernismo latino-americano que nunca tiveram uma exposição no museu", diz Pérez-Oramas. "O museu ignorou esses artistas, e agora é importante incluir esses nomes centrais para o desenvolvimento do modernismo em seus países."


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