Folha de S. Paulo


crítica

Diretor Neville d'Almeida retorna com vigor, mas trama patina

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"A Frente Fria que a Chuva Traz" acompanha jovens ricos que preparam uma festa na laje de um favelado, no Rio. A ideia parece, num primeiro momento, promover a aproximação entre morro e cidade.

Nessa paisagem de beleza absoluta, logo descobriremos, no entanto, que não é de conciliação que se trata. São as tensões sociais que balizam este filme com que Neville d'Almeida volta à direção após longa ausência.

Aqui, o desprezo entre pobres e ricos, lúmpens e burgueses, é mútuo e agressivo. Nem se compreendem e nem se aceitam. Os ricos são fúteis, boçais, grosseiros. Os pobres são apenas o seu espelho: igualmente insalubres.

Uma personagem se destaca: Amsterdã. Garota tão bela ou mais que as três burguesas. Como as outras, ela se droga. Diferente delas, porém, não o faz por diversão: seu hábito responde mais a um desencanto do mundo do que a qualquer outra coisa.

Ao quadro pode-se acrescentar um guardião de festa bêbado e um par de favelados que encena uma curra contra uma das meninas da cidade, além do cantor sertanejo que se agrega ao mundo burguês pelo "sucesso artístico".

O quadro geral faz pensar, assim como os diálogos ásperos, em Plínio Marcos, com a diferença de que em Plínio viaja-se a um submundo infernal e que decorre de desequilíbrios sociais perversos.

Aqui estamos num universo diversificado, unido apenas pelo fato de que todos, indistintamente, vivem em um estado de deterioração moral aparentemente irrecorrível.

Como num filme de Sergio Bianchi, mas com talento (Neville dirige com vigor o bom grupo de atores), temos uma sociedade putrefata, não por razões históricas e sociais. Ela faz parte da natureza.

Em suma, somos boçais e perversos e não temos que esperar por salvação. É uma ideia. Mas é também o limite do filme: o que tem de um tanto genérica se manifesta nos momentos em que o filme patina e, à falta de aprofundar seu tema, refugia-se em novas cafajestices.

A FRENTE FRIA QUE A CHUVA TRAZ
DIREÇÃO: Neville de Almeida
ELENCO: Chay Suede, Bruna Linzmeyer, Michel Melamed e Johnny Massaro
PRODUÇÃO: Brasil, 2015, 16 anos
QUANDO: estreia nesta quinta (28)


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