Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Patti Smith faz inventário de leituras e perdas em novo livro

Em "Orfeu", dirigido por Jean Cocteau em 1949, o poeta do título recebe pelo rádio poemas transmitidos por outro poeta, Cègeste, morto por agentes do Submundo.

Metáfora espirituosa do fazer literário, o entrecho elucida a ação poética dos livros de memórias produzidos por Patti Smith. Se, em "Só Garotos" (2010), o fantasma permeando as lembranças era do fotógrafo Robert Mapplethorpe, em "Linha M" vaga a presença espectral de seu marido Fred "Sonic" Smith (1949-94), guitarrista da banda MC5.

Cria do punk rock nova-iorquino, Patti Smith, desde o primeiro disco, "Horses" (1975), escancarou sua jugular poética: citou Rimbaud em todos os discos e livros, foi parceira de Tom Verlaine e Bruce Springsteen, paquerou Lou Reed e Bob Dylan e namorou Sam Sheppard.

Sua vocação de leitora sempre foi exceção no "rock and roll" e é um fio condutor de "Linha M", comovente inventário de leituras e perdas.

Ávida pela tranquilidade sombreada, Smith procura a cafeteria ideal, na qual possa ler e também conversar com assombrações privadas, como viagens na companhia de Fred à Guiana Francesa, onde deseja recolher uma pedra do entorno da colônia penal francesa para presentear Jean Genet, que beatificou o lugar em "Diário de um Ladrão".

Linha M
Patti Smith
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As viagens mentais não cessam e, mesmo sentada no 'Ino Café, seu predileto no Greenwich Village, ela vai à Catalunha visitar a cadeira usada por Roberto Bolaño, e ao Café Pasternak, em Berlim, onde senta-se sob os retratos de Maiakóvski e Anna Akhmátova.

Pura evocação, sem procurar qualquer efeito a partir de suas causas pessoais, "Linha M" é prosa de uma poeta em visita ao próprio passado.

LINHA M
AUTORA Patti Smith
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 39,90


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