Folha de S. Paulo


Hamilton de Holanda 'pinta retrato' de Chico Buarque em novo disco

A ligação do bandolinista Hamilton de Holanda com Chico Buarque vai além dos sobrenomes quase iguais (o de Chico é Hollanda) e é muito anterior às partidas de futebol que ambos disputam no campo do compositor, o Polytheama, no Rio.

O músico nascido em Brasília se recorda de, criança, escutar várias vezes uma gravação de "Carolina" feita por Jacob do Bandolim. Nunca mais deixou de ouvir, tocar e admirar a obra de Chico.

Um recorte dessa admiração está em "Samba de Chico", CD acalentando há anos e que sai agora em meio às comemorações do centenário oficial do samba, a se completar na virada de 1916 para 1917. O lançamento em São Paulo é em 17/5, no Theatro Net.

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O músico Hamilton de Holanda (Divulgação) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O bandolinista Hamilton de Holanda durante gravação

"Acho que o Chico traz Pixinguinha, João da Baiana, Noel Rosa, Ismael Silva, toda a tradição do samba", diz Hamilton. "Procurei pintar um retrato dele. Passar a emoção das canções mesmo que as letras não estejam presentes."

Quatro delas estão. "Vai Trabalhar, Vagabundo" e "A Volta do Malandro" são interpretadas por Chico. "Atrás da Porta" e "O Meu Amor", pela espanhola Silvia Pérez Cruz.

Sem levar em conta a faixa-bônus, que é a marcha "A Banda", o bolero "O Meu Amor" foge à regra do repertório de sambas. "Como a gravação original é meio hispânica, fiz o inverso e puxei a Silvia para uma versão próxima do samba", explica Hamilton.

Embora predominem faixas instrumentais, há melodias que não são de Chico: "Piano na Mangueira" (de Tom Jobim), "Atrás da Porta" e "Trocando em Miúdos" (as duas de Francis Hime).

"Quis passar por grandes parceiros dele. E o Tom é o maestro soberano do Chico, a principal influência", diz.

"Roda Viva" e "Quem te Viu, Quem te Vê" são sambas que Hamilton toca às vezes em suas apresentações, como as do Baile do Almeidinha. A festa leva milhares de pessoas mensalmente ao Circo Voador, no Rio, e estará em julho no tradicional Festival de Montreaux, na Suíça.

O bandolinista compôs o tema "Samba de Chico" para o CD, no qual está quase sempre acompanhado por contrabaixo (Guto Wirtti ou André Vasconcellos) e percussão (Thiago da Serrinha). "Samba e Amor" é a única faixa solo.

Ele ressalta não haver qualquer tom de desagravo no lançamento do CD agora, período em que Chico está no olho do furacão por sua defesa da continuidade do governo Dilma Rousseff e seus ataques ao que classifica como golpe.

"Se o Chico quiser ver como desagravo, pode ver. É uma honra ser contemporâneo de um artista dessa grandeza."

O novo trabalho é de samba, mas Hamilton vem se destacando como um renovador do choro. Aos 40, toca à maneira de um músico pop: com extrema energia, de pé, atraindo plateias jovens. E optou pelo bandolim de dez cordas (o tradicional tem oito), buscando o que chama de polifonia.

Somando suas viagens, fica quatro meses por ano no exterior. Tem sete CDs lançados na Alemanha e uma participação crescente no circuito dos festivais de jazz.

E ainda é compositor de canções, como mostrou em "Bossa Negra", projeto com o cantor Diogo Nogueira. Ele não descarta gravar ainda em 2016 seu primeiro disco como cantor –com convidados.

LUIZ FERNANDO VIANNA é autor de "Aldir Blanc - Resposta ao Tempo" (Casa da Palavra).

SAMBA DE CHICO
ARTISTA Hamilton de Holanda
GRAVADORA Brasilianos/ Biscoito Fino
QUANTO R$ 24,90


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