Folha de S. Paulo


crítica

Jérôme Bonnell prova que nem tudo vai mal no cinema francês

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Dar título local a produções internacionais traz inúmeros riscos. Às vezes é melhor adotar uma tradução mais livre, algo como "Um Corpo que Cai", versão poética do filme de Hitchcock que, no original, se chama "Vertigo".

"A Três Vamos Lá" pode ser um título brasileiro bem fiel ao original francês ("À Trois On y Va"), mas sua sonoridade é terrível.

Algo mais chamativo poderia ajudar um filme que, se não é a maior maravilha do mundo, ao menos se vê com prazer, e mostra que nem tudo vai mal no cinema francês contemporâneo de médio porte.

Por "médio porte" quero dizer que não é nem um blockbuster, nem um filme autoral, dirigido por feras como Godard ou Philippe Garrel.

"A Três Vamos Lá", agradável sexto longa de Jérôme Bonnell, mostra um triângulo entre a advogada Mélodie (Anaïs Demoustier, que vimos no recente filme de François Ozon, "Uma Nova Amiga"), a cantora Charlotte (Sophie Verbeeck) e o jovem problemático Micha (Félix Moati).

Tudo parece bem quando Micha reencontra Charlotte, sua namorada de muitos anos. O que ele não sabe é que, enquanto esteve ausente, ela se envolveu com Mélodie. Mas Micha e Mélodie também foram flechados pelo cupido, consolidando um triângulo amoroso nada tradicional.

Divulgação
Anaïs Demoustier, Sophie Verbeeck e Félix Moati em cena de 'A Três Vamos Lá
Anaïs Demoustier, Sophie Verbeeck e Félix Moati em cena de 'A Três Vamos Lá'

O filme lembra aquelas comédias eróticas que os italianos (e um pouco menos, mas também os franceses) realizavam aos montes nos anos 1970. Como estamos em tempos mais caretas, sobram aspectos cômicos e falta erotismo. Mas não se pode reclamar de sua comicidade, que, afinal, é inspirada.

É uma comédia romântica charmosa, que usa bem velhos expedientes do gênero: em uma cena mais ou menos na metade do filme, Mélodie tem de se esconder e depois sair pela janela porque Micha voltou mais cedo para casa.

Em outro momento, Mélodie passa a noite na casa de Micha e Charlotte, e tem o quarto invadido por ambos –um após o outro–, que usam desculpas como "estou com sede".

Esse lado cômico, levado com habilidade e sutileza pelo diretor, ajuda a compensar o sinal destes tempos, impresso levemente no filme, em que a hipocrisia social e sexual impõe o tom das relações amorosas.

A TRÊS VAMOS LÁ
(À Trois on y Va)
DIREÇÃO: Jérôme Bonnell
ELENCO: Anaïs Demoustier, Sophie Verbeeck, Félix Moati
PRODUÇÃO: França/Bélgica, 2015, 16 anos
QUANDO: em cartaz


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