Folha de S. Paulo


crítica

Adaptação de 'O Escaravelho do Diabo' é fidedigna e sem floreios

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O "thriller" é um gênero que, para dar certo, precisa oferecer o pacto da crença e manter o ritmo. A adaptação para o cinema do livro "O Escaravelho do Diabo" cumpre isso com uma trama fidedigna e uma direção sem floreios.

O objetivo do filme é conquistar o público jovem com uma história de mistério e suspense que, na forma escrita, foi capaz de atrair muita gente que considera ler uma coisa chata.

"O Escaravelho do Diabo", o livro, escrito por Lúcia Machado de Almeida, foi lançado em 1972 e se tornou referência, não por suas qualidades literárias, mas por facilitar a vida de professores.

A ligeireza do texto e a trama acelerada demonstravam que a leitura obrigatória da escola não precisava ser sinônimo de dever de casa. Assim, abria-se a possibilidade de muita gente descobrir a leitura como prazer.

O filme, primeira direção para cinema de Carlo Milani, transpõe o espírito de puro entretenimento e tenta se diferenciar do formato "super-herói + efeitos visuais de ponta" que se supõe ser o único capaz de atrair a hiperatividade juvenil.

A trama segue a do livro com ajustes pontuais. Uma série de assassinatos numa pacata cidade do interior tem como elemento do crime o fato de as vítimas receberem escaravelhos em pequenas caixas pouco antes de serem mortas.

Como todas as vítimas são ruivas, a constante torna-se uma pista importante e dispara a paranoia em Vila das Flores, pequena cidade que tem uma população de indivíduos ruivos acima da média.

O primeiro da lista é Hugo, irmão mais velho do garoto Alberto, que projetava nele tudo que queria ser. A perda logo mistura-se com curiosidade e espírito de aventura e Alberto começa a investigar por conta própria, interferindo nos métodos rigorosos do delegado Pimentel.

Divulgação
Thiago Rosseti em cena de 'O Escaravelho do Diabo'
Thiago Rosseti em cena de 'O Escaravelho do Diabo'

O esquema é o essencial de toda trama policial. No papel de detetive, Alberto parte da indução para a dedução e avança a passos mais largos do que a polícia, que se perde em burocracias e pistas falsas.

A fórmula é conduzida com eficácia e tem a seu favor a boa produção. A direção de arte, por exemplo, consegue um equilíbrio entre o moderno e o tradicional na ambientação de uma cidade do interior sem forçar a caricatura.

O roteiro de Melanie Dimantas e Ronaldo Santos recria a estratégia do romance de conquistar o interesse levando o público a seguir o fio misterioso da trama ao mesmo tempo que o protagonista.

Suas qualidades próprias aparecem no modo como faz a narrativa avançar em um ritmo constante, sem recorrer ao excesso de saltos e de acelerações artificiais.

Esse conjunto de bons recursos, no entanto, precisa de um elenco capaz de dar corpo à ficção.

A transformação de Alberto num garoto mais jovem do que o estudante de medicina do romance é bem-sucedida porque o filme encontra em Thiago Rosseti, de 13 anos, um ator que dá vida ao personagem.

Além de não concorrer com a imaginação do leitor, não parece um menino abstrato, uma projeção de adultos sobre como deve ser um personagem que representa uma nova geração.

O bom acabamento do conjunto pode revelar se o público do cinema brasileiro quer apenas comédias feitas de qualquer jeito ou não.

O ESCARAVELHO DO DIABO
DIREÇÃO: Carlo Milani
ELENCO: Thiago Rosseti, Bruna Cavalieri e Marcos Caruso
PRODUÇÃO: Brasil, 2016, 12 anos
QUANDO: estreia nesta quinta (14)


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