Folha de S. Paulo


'Panama Papers' pode revelar proprietário de quadro de Modigliani

O escândalo "Panama Papers" pode revelar onde está o quadro "Homem Sentado com uma Bengala", que o artista italiano Amedeo Modigliani pintou em 1918.

No domingo passado (3), um consórcio global de jornalistas publicou milhares de dados, que foram chamados de "Panama Papers", mostrando como o escritório panamenho Mossack Fonseca ajudava na abertura de empresas offshore pelo mundo. O objetivo muitas vezes era sonegar impostos ou lavar dinheiro.

No total, são mais de 11 milhões de documentos, no que é considerado o maior vazamento da história -o material foi entregue por uma fonte anônima primeiramente ao jornal alemão "Süddeutsche Zeitung".

Já se sabia que "Homem Sentado com uma Bengala" está em um armazém de uma zona franca perto do aeroporto de Genebra (Suíça). Mas ninguém conseguia chegar aos alegados donos da obra.

O quadro está avaliado em € 22 milhões.

Reprodução
O quadro "Homem Sentado com Bengala", pintado em 1918 pelo italiano Amedeo Modigliani

Nesta sexta (8), jornais suíços noticiaram que o quadro está em posse de uma empresa offshore do colecionador de arte David Nahmad, criada pelo escritório Mossack Fonseca.

Segundo o jornal britânico "The Guardian", na Segunda Guerra, antes de as tropas alemãs chegarem a Paris, Oscar Stettiner, um judeu britânico que comercializava antiguidades, fugiu com a família, deixando para trás sua coleção.

Seus bens se dispersaram, mas, segundo o jornal francês "Le Monde", em 1944 um quadro de Modigliani foi vendido pelo equivalente a € 3.600.

Em 2008, o quadro apareceu na casa de leilões Sotheby's de Nova Iorque. A casa afirmou que a obra lhe fora entregue pela galeria Helly Nahmad, que negava ser dona da obra.

Philippe Maestracci, neto e único herdeiro de Oscar Stettiner, começou uma luta que só agora parece estar próxima do fim.

Os irmãos Ezra e David Nahmad, da galeria Helly Nahmad, construíram a sua fortuna sobretudo graças ao comércio de obras de arte. Sua coleção, com cerca de 4.500 peças –incluindo 300 obras de Picasso–, está guardada no armazém perto do aeroporto de Genebra, zona isenta de taxas aduaneiras.

Mas a Nahmad dizia que o quadro não lhe pertencia, mas sim à International Art Center (IAC), empresa offshore criada no Panamá em 1995, que teria comprado a obra num leilão da Christie's.

Agora, segundo a mídia suíça, os 'Panama papers' mostram que os donos da empresa são os próprios Ezra e David Nahmad.

O jornal "Le Matin" publica um documento onde mostra que David Nahmad, que vive entre Mônaco, Paris e Nova Iorque, é o único proprietário da IAC desde janeiro de 2014. Seu filho e um sobrinho, ambos chamados Helly, dirigem a galeria Helly Nahmad em Nova Iorque e em Londres,.

Segundo o britânico "The Guardian" (que com o francês "Le Monde" e outros 106 jornais integra o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação que recebeu os "Panama Papers"), a IAC foi criada por Ezra Nahmad e gerida a partir de um escritório de advogados em Genebra.

Os registros da Mossack Fonseca mostram que metade das ações da IAC foram transferidas para David Nahman em 2008, e a outra metade em 2014.


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