Folha de S. Paulo


Em tempos de crise, solos e monólogos dominam mostra paranaense de teatro

Um festival de solos e monólogos. Em tempos de crise e de fuga de patrocínio, pelo menos dez dos 34 espetáculos da grade do festival de Curitiba tinham esse perfil.

Somaram-se a eles, ainda, as 24 peças reunidas pela Mostra Ilíadahomero, projeto que encenou o épico "Ilíada" na íntegra, sempre com um só ator em cena, sob direção de Octávio Camargo.

A aposta de Marcio Abreu e Guilherme Weber, novos curadores do maior evento teatral do país, foi diversificar linguagens, aproximar-se de ações performáticas e da dança, gêneros que decerto deram corpo ao número de solos: "La Bête", com Wagner Shwartz, inspirou-se na obra de Lygia Clark; "The Hot One Hundred Choreographers", com criação e atuação de Cristian Duarte, mixou coreografias diversas, reconhecíveis muitas vezes por um gesto apenas.

São peças para pouca gente também, e o público acabou caindo de 200 mil, em 2015, para 180 mil, neste ano. A queda vem desde 2014, quando o festival reuniu 230 mil pessoas. Os números são contabilizados pela própria direção.

Ao mesmo tempo, fez-se notável o olhar da curadoria sobre artistas que colocam autoria e interpretação como elementos indissociáveis. Foi este também o caso de "Grãos da Imagem: Vaga Carne", de Grace Passô, ponto alto da mostra. A atriz e dramaturga criou uma voz errante com questões sobre a própria existência.

A apresentação de Matheus Nachtergaele em "Processo de Conscerto do Desejo" teve casa cheia. Direção, criação e atuação sob a mesma assinatura, é mais um solo da mostra, ainda que complementado pela presença de dois músicos em cena.

Estruturalmente, o festival foi bem, só que com algumas falhas. A peça uruguaia "Tebas Land", em sua primeira sessão, foi um fracasso total, particularmente porque a legenda não correspondia ao que era dito em cena. Resultado: metade da sala deixou a apresentação antes de seu final.

A mostra paralela, o Fringe, esta sim estava fraca demais. Faltaram peças boas de fora de Curitiba, e mais uma vez sobressaíram os artistas locais. "Artista de Fuga", com direção de Marcos Damaceno, foi um dos achados no mar de 300 peças. As sessões do "Curitiba Mostra" também renderam uma espécie de porto seguro dentro do festival.


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