Uma exposição com caráter continental, que busca tratar de um tema tão diverso como a paisagem nas Américas, corria desde o princípio o risco de simplificar uma questão tão complexa.
Frente a esse desafio, "Paisagem nas Américas", em cartaz na Pinacoteca do Estado, consegue reunir 105 obras representativas, sem buscar uma síntese que tornaria a mostra superficial.
A exposição é fruto de uma parceria do museu paulista com a Terra Foundation for American Art, com sede em Chicago, e a Art Gallery of Ontario, no Canadá.
Assim, a curadoria também se divide em três nomes: Valeria Piccoli pela Pinacoteca, Georgina Uhlyarik pelo Art Gallery de Ontário, e Peter John Brownlee, da fundação norte-americana.
"Paisagem nas Américas" parte de um tema formal, mas não o trata como um compêndio generalista ou uma leitura colonialista desse gênero importado da Europa, dois riscos bastante óbvios.
Dividida em seis módulos, a mostra é organizada em um percurso cronológico, a começar por obras do século 19, como "Baía de Guanabara vista da Ilha das Cobras", de Félix-Émile Taunay, de 1828.
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'The Drive', do artista canadense Tom Thomsom |
PAISAGEM
Apesar de a cidade do Rio estar bastante presente na imagem, é a beleza da natureza carioca que possui mais força, em um evidente deslumbramento pela paisagem.
De certa forma, é o encanto pela natureza que se sobressai em grande parte da exposição, seja quando o alemão Albert Bierstadt retrata o vale de Yosemite, nos Estados Unidos, ou quando o argentino Prilidiano Pueyrredón retrata os pampas gaúchos, em uma tela de 1861.
A passagem dessa condição agrária para a vida urbana se percebe apenas com a entrada em cena dos modernistas, como Tarsila do Amaral, que comparece com obras-primas na mostra, como "São Paulo", de 1924, ou na tela "Illinois Central" (1927), de George Josimovich, em uma construção surpreendentemente semelhante à da brasileira.
FASCÍNIO
Modernista que não se rende ao urbano, um dos destaques da mostra é a norte-americana Georgia O'Keeffe, com suas paisagens um tanto esotéricas inspiradas no deserto do Novo México.
Com O'Keeffe percebe-se que, mesmo frente ao processo industrial, a paisagem americana segue fascinando.
Esse fascínio, no entanto, ganha um final dramático com a tela "A Árvore", do venezuelano Armando Reverón. Em uma pintura fantasmagórica, na qual o branco se sobressai, a árvore é praticamente invisível, como um sinal do risco eminente da falta de respeito à natureza.