Folha de S. Paulo


Mostra na galeria Marilia Razuk revela desvios do escultor Amilcar de Castro

Ele entrou para a história como o homem do aço, famoso por suas esculturas de simplicidade brilhante, feitas só com um corte e uma dobra na chapa metálica. Mas outro lado da obra de Amilcar de Castro aparece agora numa exposição da galeria Marilia Razuk.

No canto da sala, uma base irregular de madeira sustenta uma série de lâminas de vidro, que parecem fincadas ali como caídas do céu numa tempestade. Desenhos ao lado da escultura, no entanto, deixam ver que nada ali é acidental.

Essa é uma irregularidade enganosa. A coluna de vidro de Castro -o artista que morreu aos 82, há 14 anos, fez pouquíssimas dessas obras- na verdade tem o mesmo rigor de suas esculturas de aço, pensadas até o último milímetro para que tivessem o aspecto espontâneo de um plano que se deixa atravessar pelo espaço ao redor em dois movimentos.

Vistos lado a lado, seus desenhos e a coluna de vidro para a qual serviram de esboço são o ponto mais forte da mostra. Isso porque revelam a extrema coerência de Castro mesmo no que, à primeira vista, parece uma ruptura com o resto de sua obra, marcada pelo peso e pela opacidade.

Nesse sentido, a coluna de vidro se revela quase um negativo de suas esculturas de aço -é a materialização da luz enquanto as peças metálicas parecem ser sombras geométricas extraídas da atmosfera, uma espécie de adensamento formal da escuridão que ressalta, ao mesmo tempo, os vazios luminosos em torno dela.

"Existe uma geometria muito particular, e nessa geometria ele encontra linhas que só ele sabe onde estão", diz Rodrigo de Castro, filho do artista, que organiza a mostra. "A transparência do vidro faz com que a peça mude dependendo da direção do olhar."

Outra obra ali, também muito pouco vista, é uma variação da estratégia de corte e dobra que celebrizou o artista. Sem cortes, uma escultura de aço parece dobrada num ângulo reto, mantendo, no entanto, a força do gesto, uma curva sutil. No fundo, a mostra se revela um breve arsenal dos desvios formais de Castro.

AMILCAR DE CASTRO
QUANDO de seg. a sex., 10h30 às 19h; sáb., 12h às 17h; até 30/4
ONDE Marilia Razuk, r. Jerônimo da Veiga, 131, tel. 3079-0853
QUANTO grátis


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