Folha de S. Paulo


Antunes Filho estreia peça derivada de 'Um Bonde Chamado Desejo'

Lenise Pinheiro/Folhapress
Sao Paulo, SP, Brasil. Data 15-03-2016. Espetaculo Blanche. Atores Antonio Carlos de Almeida Campos (esq) e Marcos de Andrade (centro) e Guta Magnani (dir/enfermeira). Sesc Consolaçao- Centro de Pesquisa Teatral (cpt). Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
Antonio Carlos de Almeida Campos (esq.), Marcos de Andrade (centro) e Guta Magnani em cena de "Blanche"

Antunes Filho já havia dirigido "Um Bonde Chamado Desejo" em 1956, com Maria Fernanda como Blanche DuBois e Jardel Filho como Stanley Kowalski, papéis celebrizados por Vivien Leigh e Marlon Brando em 1951, no cinema. Foi para a televisão, mas "ao vivo, ao vivo, ao vivo!", descreve o diretor, orgulhoso.

Aos 86, ele volta agora à peça de Tennessee Williams, escrita em 1947, porque um ator queria fazer Blanche, Marcos de Andrade. Havia motivo até político para encenar assim, com homem no papel de mulher tão frágil, violentada: a violência prossegue contra homossexuais como contra mulheres.

Mas todos os motivos ficaram pelo caminho. "Tinha cartas marcadas, e o processo foi virando outra coisa." Ele não sabe ou não quer dizer o que virou esta "Blanche". Além de mudar o roteiro, concentrando-se nas irmãs Blanche e Stella -esta casada com Kowalski-, suprimiu as palavras.

A peça é toda em "fonemol", como Antunes chama a língua imaginária que entrou no lugar do clássico americano de Williams. É a segunda vez que recorre a ela. A primeira foi com "Nova Velha História", em 1991, que recriava "Chapeuzinho Vermelho".

O programa de "Blanche", que estreia nesta quarta (23) para o público, vem com roteiro detalhando as nove cenas, mas o diretor quer mesmo é que o espectador crie sua dramaturgia particular. "Se for a minha, você vai se chatear. Então você faz a sua peça e vai gostar muito. Você pensa a peça por mim."

Andrade conta que há cerca de um ano, quando começou a preparação, os atores partiram da adaptação de Antunes e foram apagando as palavras. "A gente começou a refazer as cenas no 'fonemol', parte por parte. A peça foi ganhando mais sentido, em cima do original."

Segundo ele, a intenção é aprofundar o texto. "E a sequência está quase toda ali", embora não tenha restado palavra alguma. Mais que roteiro, acrescenta, o que ficou é partitura: "Todo dia eu falo para ela [apontando Andressa Cabral, que faz Stella] no mesmo lugar, com a mesma intenção; só o som é diferente".

Os atores do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) do Sesc, comandado por Antunes, discorrem longamente sobre o "fonemol". Lembram um CD em russo no chamado CPTzinho, o início da preparação dos atores, até o parentesco com o "grammelot", o vozerio cômico ininteligível usado, por exemplo, pelo italiano Dario Fo.

Antunes acrescenta que "o 'fonemol' só abre", tanto para o ator como para o espectador, mas este tem que estar com a imaginação disponível. "Passando os cinco, dez primeiros minutos, que estranha, aí você pensa: 'Vamos ver para onde vai essa porcaria'. [Risos] Aí você vai embarcando."

Faz um paralelo com uma cena cotidiana: "É que nem você ver, no trem, um casal discutindo. Você fica olhando, não ouve, não entende direito. E já começa a imaginar. Uma porção de minhoca começa a sair do ouvido...".

BLANCHE
QUANDO qua., qui. e sex., às 20h; sáb., às 17h; não haverá apresentação na sexta (25)
ONDE Sesc Consolação, 7º andar, r. Dr. Vila Nova, 245, tel. (11) 3234-3000
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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