O sucesso dos filmes religiosos desde "A Paixão de Cristo" (2004), de Mel Gibson, é um fenômeno visto no período da Páscoa. Vão de adaptações televisivas ("A Bíblia", "Os Dez Mandamentos") a superproduções ("Noé", "Êxodo: Deuses e Reis"), passando por longas independentes ("O Filho de Deus", "Deus Não Está Morto").
Agora, a Sony utiliza um selo próprio (Affirm Films) para lançar "Ressurreição". A novidade é que o longa é uma espécie de "CSI: Jerusalém" sobre a investigação dos romanos após a crucificação e o desaparecimento do corpo de Jesus (Cliff Curtis) na Judeia.
"É uma história de detetive", diz à Folha o ator Joseph Fiennes ("Shakespeare Apaixonado"), dono do papel de Clavius, oficial romano responsável pelo caso. "Lembra a estrutura de investigação de 'Chinatown', de Polanski, porque Clavius entra na toca do coelho sem saber o que vai encontrar e muda suas crenças."
A ideia de transformar a morte e ressurreição de Cristo em uma trama com tom realista surgiu quando os produtores se aproximaram do diretor Kevin Reynolds ("Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões"), que reescreveu o roteiro. "Queríamos mostrar a ressurreição em uma Jerusalém mais realista, pois todo mundo já conhece a história", diz o roteirista Paul Aiello
CONTINUAÇÃO
Aiello afirma que o filme foi concebido como uma "continuação de 'A Paixão de Cristo'". E vai mais longe na violência da crucificação e dos ataques aos seguidores do profeta —que, segundo os "detetives da época", poderiam estar escondendo o corpo.
Enquanto Gibson seguiu uma linha radical de recriação histórica, inclusive nos diálogos em aramaico, "Ressurreição" tem romanos falando inglês britânico e um personagem principal ficcional.
"Para [o fictício] Clavius, tive em mente o imperador Constantino, que teve um sonho com Jesus e se converteu ao cristianismo", conta Fiennes, que "não frequenta a igreja" e ainda está à procura de uma "consciência divina". "A religião pode produzir muros entre as pessoas, então ainda não sei em que acredito. Tenho crenças humanistas. "
Já o neozelandês Cliff Curtis, que interpreta Jesus, é devoto desde criança, quando servia como coroinha na igreja local e até pensava em virar padre antes de trabalhar como ator. "Jesus Cristo é meu super-herói", exalta Curtis.
E o ator que combate zumbis em "The Fear of the Walking Dead" levou o papel a sério. Durante as filmagens em Almería, Espanha, e na Ilha de Malta, Curtis fez um voto de silêncio para entrar no papel —seu Jesus resume-se a aparições aos apóstolos.
Além disso, trocou os hotéis de luxo por uma pequena casa na ilha, onde cozinhava e lia. "Não conversava com meus colegas durante as filmagens. Aprendi muito sobre mim nesse processo."
Fiennes tentou seguir a mesma trilha para seu tribuno descrente que termina convertido. "Foi importante para os atores essa seriedade", diz ele, que só teve permissão de encontrar Curtis nas cenas em que dividiam.