Folha de S. Paulo


Clássico americano ganha montagem 60 anos após versão de Augusto Boal

Um é baixinho, franzino e esperto. O outro, forte como um brutamontes, mas tem a mente de uma criança.

George, o primeiro, e Lennie, trabalhadores rurais na Califórnia da Grande Depressão, que ganham a vida fazendo bicos de fazenda em fazenda, tornaram-se símbolo de figuras marginalizadas.

São protagonistas de "Sobre Ratos e Homens", novela de 1937 do americano John Steinbeck adaptada ao teatro no mesmo ano pelo autor.

A obra já ganhou diversas versões para o cinema e o palco e agora recebe nova montagem brasileira, que estreia na quinta (17) em São Paulo.

O espetáculo foi idealizado há quatro anos pelos atores Ricardo Monastero e Ando Camargo, intérpretes de George e Lennie, respectivamente.

"É uma peça que fala de compaixão, amizade, do ideal de um sonho", diz Ricardo.

Sem família, casa ou emprego fixo, seus personagens encontram uma empatia um pelo outro. São forçados a se unir quando Lennie, que tem uma deficiência mental, se envolve em um incidente com Mae (Natallia Rodrigues), nora de um de seus patrões.

"Mas é uma obra que não tem só a visão dos EUA dos anos 1930", analisa o diretor Kiko Marques. "É um texto aberto, há um paralelo com o capitalismo em que vivemos."

A questão da compaixão, continua Ando, pode ser comparada a temas "como a crise de refugiados da Europa".

ARENA

A montagem acontece 60 anos após a aclamada versão de Augusto Boal (chamada de "Ratos e Homens"). Foi a estreia do diretor no Teatro de Arena de São Paulo e tinha atuação de Milton Gonçalves e Gianfrancesco Guarnieri.

A nova peça tem no elenco Luiz Serra, 78, que trabalhou com Boal (1931-2009) e viu a versão do diretor para o texto de Steinbeck. "Este trabalho está me trazendo memórias de juventude, dessa urgência que tinha a obra de Boal."

"A peça fala do ser humano como um sobrevivente", segue Luiz, que interpreta Candy, empregado na casa onde os protagonistas arrumam trabalho. "Tem a trajetória de uma tragédia grega."

O ator conta que a montagem de Boal tinha um viés mais político, de crítica ao regime, diferente da versão atual –segundo Kiko, "a política como primeiro plano não nos interessa, buscamos mais as relações humanas".

"Boal tinha como linha de raciocínio a exploração do homem pelo homem", diz Luiz. "E a diferença no porte físico dos personagens era uma representação disso."

A produção de "Sobre Ratos e Homens" pretende levar a peça ao Teatro de Arena em setembro, aniversário da estreia da montagem de Boal.

SOBRE RATOS E HOMENS
QUANDO qui. a sáb., às 21h, dom., às 18h; até 17/4 (não haverá sessão no dia 25/3)
ONDE Sesc Bom Retiro, al. Nothmann, 185, tel. (11) 3332-3600
QUANTO R$ 9 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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