Folha de S. Paulo


Kanye West promete 'maior álbum da história', mas deixa fãs a ver navios

Karen Minasyan/AFP
(FILES) This file photo taken on April 12, 2015 shows rapper Kanye West as he performs during his concert in Yerevan, Armenia. Rap superstar Kanye West, saying he felt a new freedom after admitting to personal debt, on February 24, 2016 announced his second album of the year.West earlier this month put out
Kanye West em show na Armênia, em 2015

"Eu amo vocês como Kanye ama Kanye", brada Kanye West, 38, em "I Love Kanye", canção satírica na qual critica o próprio narcisismo, mau humor e acessos de raiva, tudo enquanto pontua as rimas com seu nome.

As marcas da megalomania não surpreendem vindas do autoproclamado Yeezus (junção de seu nome e, sim, Jesus Cristo), sempre cercado por seu séquito de aduladores, encabeçado pela mulher, a socialite ególatra Kim Kardashian.

Tais marcas são o espírito de seu sétimo e mais recente disco, "The Life of Pablo", com seu enigmático personagem-título —se Escobar ou Picasso, não importa: são todos menos influentes que Kanye West.

Apesar da pompa do músico, seus fãs estão na mão. Kanye prometeu diversas vezes o disco, mas frustrou o público. Até agora, parte dos fãs que pagou pelo álbum não o recebeu. E quem recebeu só teve acesso a uma cópia mal acabada.

O primeiro anúncio de que os acólitos do artista teriam a chance de ouvi-lo foi durante o desfile da terceira coleção do rapper para a Adidas, em fevereiro.

A ideia era, por US$ 35 (cerca de R$ 130), ver o desfile no opulento Madison Square Garden, com transmissão ao vivo em cinemas dos EUA —e direito a receber uma cópia digital do álbum.

Em vez do lançamento, o rapper apenas conectou seu computador à rede de som e apresentou as 18 faixas de "Pablo", uma colagem frenética de neuroses e samples com as vozes de Nina Simone e Rihanna, a pregação religiosa de uma criança de quatro anos e a trilha sonora do jogo "Street Fighter 2".

Os fãs que haviam pagado pelo disco ficaram de mãos abanando e foi preciso esperar dois dias até o lançamento comercial. Este veio após o agora célebre ataque de fúria do rapper nos bastidores do "Saturday Night Live".

Kanye reclamou de mudanças feitas no cenário e encerrou o programa anunciando (de novo) a chegada de "Pablo", dessa vez no serviço de streaming Tidal. O disco ainda não estava lá.

Quando por fim deu as caras na plataforma de streaming quase uma hora depois, o álbum fez a base de usuários do site saltar de 1 milhão para 2,5 milhões, segundo o site "TMZ".

Quem desembolsou o dinheiro não teve vida fácil. As reclamações variaram de downloads falhos a cópias defeituosas, com faixas ausentes, levando a empresa a cancelar a venda e a informar que uma versão com só metade do disco estaria disponível apenas para streaming, sem direito a download.

A forma final do registro seria conhecida "dali alguns dias", quando o rapper terminasse de remixar duas faixas. Ainda não veio.

Reféns do perfeccionismo do artista, os fãs que conseguiram baixar o disco não sabem se adquiriram uma versão inacabada de um produto superior.

Os esperançosos em comprar cópias físicas também receberam más notícias. "Nada de outros discos físicos para mim", sentenciou Yeezus, um dos maiores defensores do streaming, no Twitter.

O lançamento fracassado no Tidal prejudicou "Pablo" nas paradas americanas. Única casa do álbum, a plataforma de streaming não compartilhou seu número de reproduções com a consultoria especializada Nielsen Sound Scan, responsável pela lista de músicas e discos mais populares.

Antes de toda a novela, Kanye usou o Twitter, seu megafone pessoal, para dizer que o álbum não seria "só" o maior de sua carreira, mas "o maior da história". O rapper chegou até mesmo a escrever para o presidente da Academia Fonográfica dos EUA dizendo que só vai ao Grammy se tiver a garantia de vitória.

Agora, seus fãs questionam-se nas redes sociais como um artista tão perfeccionista e megalomaníaco deixou o lançamento de seu disco se transformar em um desastre de mercado.

THE LIFE OF PABLO
ARTISTA Kanye West
GRAVADORA Def Jam
QUANTO US$ 3,99 (mensalidade do serviço de streaming Tidal)


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