Folha de S. Paulo


Mostra na Caixa Cultural discute violência e abusos contra as mulheres

Uma alegoria sobre as origens do povo brasileiro tem como base um casal, Adão e Eva. Mas ao contrário da narrativa bíblica, eles passam longe do paraíso. Esse Adão e essa Eva são negros trazidos como
escravos às lavouras do país.

Nesse ponto, a obra de Rosana Paulino, agora numa mostra com peças de outras quatro artistas mulheres que discutem a opressão feminina na Caixa Cultural, é uma reflexão sobre os alicerces violentos de uma nação que mascara o racismo ao mesmo tempo que atrela o sofrimento à experiência da mulher que dá à luz homens em desvantagem.

É o que Sandra Tucci, artista que organiza a mostra, chama de uma discussão histórica sobre "um passado que a gente mal consegue engolir e que precisa ser visto".

Na mesma exposição, a artista Lia Chaia aparece num vídeo nua e grávida, deitada sobre lantejoulas vermelhas no chão. Distorcendo a imagem da mulher sexy, num ataque à fetichização do corpo feminino que vigorou ao longo de séculos na história da arte, esse é mais um trabalho que busca reenquadrar a força feminina na arena da produção visual.

Toda coberta de marcas de caneta preta, dessas usadas para planejar cirurgias plásticas, Marcela Tiboni também ataca a visão clichê do nu feminino em suas fotografias que escancaram um corpo fora dos padrões da moda.

Cris Bierrenbach abre a mostra com autorretratos em que se vestiu de aeromoça, gari e policial, questionando pelo viés do trabalho a condição de desigualdade imposta às mulheres. Não por acaso, essas fotografias têm rasgos no lugar do rosto, reforçando uma espécie de condenação ao anonimato.

"Sempre existem as estatísticas assustadoras. São números que não baixam, desde violência doméstica contra a mulher à questão do estupro que é bastante recorrente, além de todas essas desigualdades", diz Tucci. "Embora eu ache que a gente teve várias conquistas, tem muito que ser trabalhado."

SILÊNCIO DO FEMININO
QUANDO de ter. a dom., das 9h às 19h; até 8/5
ONDE Caixa Cultural, pça. da Sé, 111, tel. (11) 3321-4400
QUANTO grátis


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