Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Obra do iraniano Makhmalbaf não faz mal, mas não agarra problemas

Trailer de "O Presidente";

O início de "O Presidente" não tem maiores surpresas, mas funciona: um ditador governa seu país com mão de ferro. É adorado pelo seu povo. Sua família vive como em um sonho, onde nada falta e nada sobra.

É um clichê, sem dúvida, mas vale para qualquer ditadura passada ou futura. O que vem depois também não foge à regra: de uma hora para outra o presidente descobrirá que na verdade ninguém o ama, que um golpe (ou revolução, enfim) está em andamento.

Essa é a melhor passagem do filme. Ali, o iraniano Mohsen Makhmalbaf controla bem o desenrolar das ações, de tal modo que tanto o ditador quanto o espectador se surpreendem com a sucessão dos acontecimentos.

O certo é que o homem fica sozinho em sua fuga, acompanhado apenas pelo neto. Aí se inicia o périplo do castigo severo a que o homem será submetido. Não se trata mais, apenas, de perder o poder ou mesmo a vida.

Trata-se de descobrir, passo a passo, a catástrofe que foi seu governo. E, claro, sentir na pele essas deficiências. Trata-se, ainda, de descobrir como é disseminado o ódio por ele. E, por fim, de descobrir que os revolucionários (ou golpistas) não são santos.

ENGAJAMENTO

Em outras palavras, o destino desse homem será raramente surpreendente. E nem a presença do neto a seu lado dará vida a essa trama. Estamos longe de "O Garoto", de Chaplin, embora o menino esteja agora descobrindo um mundo diferente daquele em que vivera até alguns dias atrás.

Em outras palavras, ainda: em algum momento, o engajamento político de Makhmalbaf, sua ligação concreta com as coisas do Irã, puderam produzir alguma ficção consequente. Há anos, sua produção vem demonstrando que, a longo prazo, a política não é um assunto rico o bastante para garantir o êxito de uma obra que, não sendo incompetente, hoje parece existir quase vegetativamente: não faz mal a ninguém, mas também não agarra problema algum.

A SÉRIE DIVERGENTE: CONVERGENTE
(The President)
DIREÇÃO Mohsen Makhmalbaf
ELENCO Mikheil Gomiashvili, Dachi Orvelashvili
PRODUÇÃO Geórgia, França, Reino Unido, Alemanha, 2014, 14 anos
QUANDO em cartaz


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