Folha de S. Paulo


Há três décadas no SBT, humorístico 'A Praça é Nossa' chega a bater Globo

À "Praça É Nossa" (SBT), só vai quem sabe rir. Na semana passada, quem ocupava os lugares na plateia que assistia à gravação do programa que foi ao ar na quinta (10) –um especial sobre os 80 anos do apresentador Carlos Alberto de Nóbrega– eram fãs que há anos frequentam o mesmo banco.

Eles são parte da claque, as 80 pessoas que recebem R$ 20 e um pacote de salgadinho para rir atrás das câmeras e emprestar a gargalhada a três microfones.

Tudo sob o comando de Carla Liberal, que agita um dos braços para cima quando é para rir. Ou bate palmas quando pede aplausos.

Com gente dos 18 aos 83, as caravanas são sempre as mesmas, de Osasco (Grande SP) e do Itaim Paulista (bairro da zona leste paulistana). A caravanista Isa conta que o ideal é conservar o grupo, embora o SBT não exija a frequência. "É bom manter o ritmo. Cada pessoa tem uma risadinha diferente", diz.

Quem também continua achando graça da "Praça" são as cerca de 621 mil famílias que veem o programa toda semana na Grande São Paulo, segundo o Ibope. Isso garante à atração audiência média de 9 pontos e o segundo lugar na TV. Chega a ganhar da Globo em alguns momentos –em janeiro, superou o "Jornal da Globo" durante 40 minutos.

Pela tela do iPhone 6, Carlos Alberto de Nóbrega, à frente da atração, acompanha em tempo real a audiência do programa, atualmente dirigido por Marcelo Nóbrega, seu filho. "Minha preocupação é a Record. Vencer a Globo é a cereja do bolo."

Sobre a graça da "Praça", dona Sebastiana resume sua disposição para fazer parte da claque há 11 anos: "É uma distração nossa", cochicha. Enquanto isso, Carlos Alberto também fala baixinho no centro do estúdio, ensaiando antes de gravar.

À exceção de Paulinho Gogó, Tiburcio e Matheus Ceará, que criam as piadas na hora de gravar e arrancam gargalhadas escancaradas do apresentador, a maioria do elenco passa o texto com Nóbrega sem que a claque escute as piada –parte do sucesso de uma anedota é o inesperado, como ele explica depois em sua sala no SBT, a poucos metros da do "patrão" Silvio Santos.

AS MESMAS FLORES

Dos 80 anos que Carlos Alberto completou no sábado (12), 60 são na mesma praça.

Em 1956, aos 20 anos, ele já assinava os roteiros da "Praça da Alegria", criada pelo pai Manoel de Nóbrega, para a TV Paulista (hoje Globo).

Em 1963, o programa foi para a Record, onde ficou até 1970 –na emissora, Carlos Alberto ainda escreveu a "Família Trapo", clássico dos anos 1960 com Ronald Golias e Jô Soares.

O pai morreu em 1977 e, um ano depois, a Globo voltou a exibir o humorístico, com Carlos Miele no banco da praça, recebendo humoristas.

"Nessa época, o Carlos Alberto ainda estava muito moço [42 anos] para assumir. Precisávamos de alguém com mais experiência, por isso o Miele", comenta José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-diretor da Globo.

Vendo "A Praça É Nossa" hoje –o programa foi rebatizado quando estreou no SBT, em 1987–, Boni diz pensar que o herdeiro ocupa melhor o banco da praça do que o próprio pai: "Ele é mais solto".

Poucas coisas mudaram em seu humor desde os tempos em que Manoel de Nóbrega criou o formato: um tipo que, lendo jornal no banco da praça, interage com comediantes e funciona como escada para as piadas. "É uma ideia eterna. Brilhante, porque dá para não só receber grandes humoristas, mas principalmente descobrir novos", comenta Boni.

Se tudo é igual é porque, para Carlos Alberto, seu humor exige simplicidade: "É um programa popular, não adianta tentar se fazer de intelectual", diz. "A qualidade do humor mudou, o visual mudou. Mas piadas que conto aqui são de 50 anos atrás, de quando eu estava começando, e já eram velhas."

A aposentadoria, por ora, está fora dos planos. E também o fim da claque: seus risos e aplausos poderiam, há anos, ser substituídos por gravações. Mas ainda são fundamentais para a desenvoltura, a do público em casa e a dos comediantes.

"O riso é contagiante", explica Carlos Alberto. "No cinema, todo mundo ri junto. Em casa, se você ouve a risada, ri também."

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O PROGRAMA EM TRÊS DÉCADAS Estreia foi no SBT em 1987

ANOS 1980

Após meses no ar pela Band, Silvio Santos leva "A Praça é Nossa" para o SBT. Entre os convidados, o humorista Jô Soares, para quem Carlos Alberto já havia escrito na década de 1960, em "Família Trapo" (Record)

ANOS 1990

Passam pelo banco da "Praça" personagens marcantes, como a Velha Surda, Ronald Golias, Vera Verão e, até hoje, o cantor e ator Moacyr Franco

ANOS 2000

Ainda com grandes nomes das primeiras gerações (Zé Bonitinho e Rita Cadillac), o programa renovou seu elenco com humoristas vindos da comédia stand-up, como Paulinho Gogó e Matheus Ceará

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NA TV
A Praça É Nossa
QUANDO quinta, às 23h, no SBT


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