Folha de S. Paulo


Benedito Ruy Barbosa volta ao horário nobre após 14 anos com 'Velho Chico'

Benedito Ruy Barbosa, 84, costumava sentar no sofá de sua fazenda e assistir a três ou quatro novelas por dia. Hoje, conta que não consegue ver mais nenhuma. Sem medo de soar brega, acha que as tramas recentes não atingem o coração do telespectador.

"Não estou fazendo crítica a ninguém, mas precisamos resgatar a emoção. A emoção que faz você querer ver o capítulo de amanhã e depois", diz o novelista. "A televisão está precisando de história para levantar o público."

Para o autor de três dos maiores sucessos da década de 1990, "Pantanal", "Renascer" e "O Rei do Gado", há um excesso de crime e de "sacanagem" no ar. E isso deve ser combatido com a "coisa mais linda do mundo: o amor", fala. "É bonito você ver esse sentimento proliferar numa sociedade carente de afeto."

É esse o mote, ou a palavra que resume sua nova novela, "Velho Chico", que estreia nesta segunda (14), no horário nobre da Globo.

O folhetim é o primeiro original de Benedito em 14 anos. E retoma a parceria bem-sucedida do autor com o diretor Luiz Fernando Carvalho, com quem trabalhou em "Renascer" (1993), "O Rei do Gado" (1996), "Esperança" (2002) e o remake "Meu Pedacinho de Chão" (2014), escrita por ele próprio em 1971.

A trama é escrita por Edmara Barbosa e Bruno Luperi Barbosa, filha e neto do novelista, que não dá mais conta de seguir a rotina extenuante de criação de cenas e diálogos de uma novela.

"Velho Chico" também interrompe um ciclo de tramas das 21h ambientadas no eixo Rio-SP, já que a saga familiar se passa no sertão nordestino, onde a primeira fase da trama foi gravada.

O pano de fundo é o rio São Francisco, que enfrenta uma seca histórica, e seu polêmico projeto de transposição.

"Fazendo uma autocrítica à última década, estamos devendo equilíbrio entre o urbano e o Brasil profundo", afirma Carvalho. "Como diria Guimarães Rosa, o Brasil é o indizível. Tem dimensão étnica, estética, cultural muito além do que o mercado preconiza."

Para Antonio Fagundes, que viverá o protagonista coronel Afrânio na segunda fase, é importante que o Brasil profundo seja retratado novamente num folhetim. "É um país que tem muita coisa desconhecida para o próprio brasileiro. Fala-se da transposição do rio São Francisco, mas o que acontece com aqueles seres humanos?", diz.

Conforme disse à Folha o diretor-geral da Globo, Carlos Henrique Schroder, essa fuga da temática urbana é importante num momento de crise política e social pela qual o país vem passando, quando as novelas não deveriam reproduzir a "crueza" natural dos fatos.

CONCORRÊNCIA

Com a Record estreando em abril a continuação de "Os Dez Mandamentos", trama que abalou a audiência da Globo em 2015, e "A Terra Prometida", em julho, a emissora carioca resolveu combater a concorrência bíblica com o melodrama rural.

O autor, que conseguiu o feito de bater a Globo com "Pantanal" na extinta Manchete, acha importante que haja competição no mercado, mas não teme o ibope. "Com essa ['Velho Chico'], a Record não pode [risos]", afirma.

O enredo de "Velho Chico" é o clássico de Benedito, dividido em duas fases, com a primeira se passando no fim dos anos 1960: um amor proibido e briga entre famílias (normalmente uma rica, a outra menos abastada; uma opressora, a outra de oprimidos ou que luta por estes).

Em "Velho Chico", a paixão que norteará a trama é a de Maria Tereza (Camila Pitanga), filha do coronel Afrânio (Rodrigo Santoro/Antonio Fagundes), e Santo (Domingos Montagner).

Afrânio é um jovem advogado que se vê obrigado a assumir as obrigações do pai e o comando da fazenda da família quando este morre.

Carvalho explica que a primeira fase da novela funcionará como um álbum de família do passado. "É para a gente pensar no que deu aquele amor e no que deu aquele rio. Ele ainda está lá? O rio está morrendo, literalmente, mas o amor do Santo pela Maria Tereza ainda está lá; é transcendente, mágico", diz.

É a mistura de "grandes afetos e grandes abandonos", segundo o diretor, que forma "Velho Chico".

NA TV
Velho Chico
QUANDO a partir de segunda, às 21h, na Globo


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