Folha de S. Paulo


crítica

Mesmo involuntariamente cômico, filme de Babenco tem belas cenas

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A série de longas autobiográficos de Hector Babenco, iniciada em "Coração Iluminado" (1998) e continuada em "O Passado" (2007), passando pela aventura no blockbuster "Carandiru" (2003), chega agora ao ápice com "Meu Amigo Hindu", produção multinacional com Willem Dafoe no papel principal.

Diego Fairman (Dafoe), alter-ego de Babenco, está perdendo a batalha contra o câncer. A quimioterapia já não faz mais efeito, e a última chance de se curar é um transplante de medula a ser realizado nos EUA, sob recomendação do doutor Ricardo Steen (Reynaldo Gianecchini) –na verdade Drauzio Varella.

Os primeiros minutos anunciam uma bomba. Vemos vários atores globais –além de Gianecchini, Maria Fernanda Cândido, Selton Mello, Maitê Proença, Dan Stulbach e outros– falando em inglês, embora o filme seja brasileiro e ambientado predominantemente aqui.

A estratégia é compreensível: a possibilidade de abrir mercados no exterior com Dafoe. Mas para o público brasileiro, o filme por vezes se torna uma comédia involuntária.

Divulgação
Cena de 'Meu Amigo Hindu
Cena de 'Meu Amigo Hindu'

Quando o tratamento médico se inicia, contudo, as imagens ganham gravidade. As cenas se tornam duras, secas, transmitem a dor e a agonia da luta do artista. Daí em diante o filme cresce, trôpego, mas com algumas belas cenas.

Talvez a opção pela onipresente língua inglesa pudesse ser contornada ou atenuada. E o suposto poder de atração sexual do protagonista por vezes parece coisa de adolescente sem autocrítica.

Mas é um salto no abismo interessante, de um artista que nunca teve medo do ridículo. Salto coroado pela dança sensual de Bárbara Paz, numa homenagem ao indefectível "Cantando na Chuva".

MEU AMIGO HINDU
(My Hindu Friend)
DIREÇÃO: Hector Babenco
ELENCO: Willem Dafoe, Maria Fernanda Cândido, Selton Mello
PRODUÇÃO: Brasil, 2015, 16 anos
QUANDO: estreia nesta quinta (3)


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