Folha de S. Paulo


Produzido por brasileiro, 'A Bruxa' vira sensação de horror nos EUA

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Poucas coisas possuem a capacidade de amedrontar Stephen King, um dos maiores escritores da literatura de terror. Mas um longa financiado por um brasileiro conseguiu o que parecia ser impossível. "'A Bruxa' me meteu muito medo", declarou o autor de "O Iluminado", mês passado, em seu Twitter. "E é um filme de verdade, tenso e provocador, além de visceral."

Mas a jornada de "A Bruxa", que estreia nesta quinta (3) no Brasil, rumo à aprovação do mestre do horror foi longa. O diretor norte-americano Robert Eggers passou quatro anos batendo nas portas de pequenos e médios estúdios. Todos torciam o nariz para a ideia de uma família banida da comunidade religiosa durante a América colonial do século 17 e que passa a ser dizimada por uma entidade maligna. "Ninguém queria fazer o longa que eu desejava", disse Eggers à Folha.

Até o brasileiro Rodrigo Teixeira, da RT Features, colocar as mãos na sinopse e no argumento do cineasta estreante. "Fui o primeiro investidor a entrar no projeto, sem ler o roteiro. Era um filme difícil, de conceito complicado, mas senti que havia algo bom na ideia", lembra-se o produtor. "Me deixaram ser obsessivo com os detalhes e escolher o elenco que queria. Não estaria aqui sem eles", relata Eggers, vencedor do prêmio de direção no Festival de Sundance, ano passado.

O risco se pagou. Somente no fim de semana de estreia nos EUA, "A Bruxa" rendeu três vezes mais que o orçamento de US$ 3,5 milhões e já chega quase aos US$ 20 milhões. Uma marca impressionante tratando-se de um filme de horror de arte sem nenhum astro.

"A Bruxa" é um retrato sem concessões da paranoia religiosa que parece impregnada na humanidade –ontem e hoje. Passado cerca de 60 anos antes dos julgamentos de Salem, Massachusetts, nos quais 14 mulheres foram mortas acusadas de bruxaria, o longa segue um fazendeiro (Ralph Ineson), que tenta construir uma vida com a mulher (Kate Dickie) e os cinco filhos no meio das florestas da Nova Inglaterra, em 1630.

A família começa a sofrer com uma suposta influência sobrenatural e a filha mais velha (Anya Taylor-Joy) é vista como uma bruxa. Mas não espere narizes com verrugas e vassouras voadoras. "Hoje, as bruxas não significam nada além de uma decoração brega de plástico no Halloween, mas para a mente puritana calvinista do século 17, elas eram tão reais quanto uma árvore ou uma pedra. Para conseguir pensar assim, precisamos voltar àquele período."

E foi o que fez Eggers, de certo modo. Os atores precisaram ensaiar o inglês arcaico, se acostumar com as filmagens em luz natural e trabalhar com ferramentas antiquadas. "Fizemos uma jornada à uma terra selvagem e isso nos transformou em uma família", diz a atriz Anya Taylor-Joy.


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