Folha de S. Paulo


crítica

Mérito de 'A Bruxa' é se filiar ao terror sem se prender a chavões

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Nos Estados Unidos, "A Bruxa" foi saudado como um renovador do filme de horror. Talvez seja uma conclusão precipitada, mas não há dúvidas de que a produção está bem acima da média do gênero hoje.

Primeiro filme de Robert Eggers, realizado com baixo orçamento, "A Bruxa" se passa na colônia da Nova Inglaterra, no século 17.

Ameaçada de ser banida por sua comunidade, uma família de colonos ingleses decide se mudar para um local distante, uma floresta desabitada. O motivo do banimento não fica claro, mas tem algo a ver com o fundamentalismo religioso da família.

No novo lar, o pai William, a mãe Katherine, a filha adolescente Thomasin, o filho pré-adolescente Caleb e os gêmeos Mercy e Jonas presenciam estranhos acontecimentos.

Primeiro, as espigas de milho plantado apodrecem sem razão. Depois, um bode preto se torna violento. E, mais importante, o bebê recém-nascido da família desaparece sem deixar vestígios.

A partir daí, um clima de paranoia se instala na família: eles passam a desconfiar que um de seus membros pode estar enfeitiçado pelo demônio. As principais suspeitas recaem sobre Thomasin.

Nesse entrecho, o filme parece ser uma versão caseira de "As Bruxas de Salem" (1953), a peça de Arthur Miller em que se dramatiza a perseguição a mulheres vistas como bruxas em uma comunidade da Massachusetts do final do século 17.

Em escalas distintas, ambos lidam com as consequências trágicas do fanatismo religioso. Mas, diferentemente da peça, "A Bruxa" é uma obra de horror –ou seja, o coisa ruim não é apenas uma abstração humana.

O maior mérito do filme é se filiar claramente ao um gênero sem ceder a seus chavões. No lugar dos sustos fáceis, o filme oferece uma tensão crescente –quando o terror aparece, ele chega pra valer.

"A Bruxa" tem a sabedoria de não oferecer conclusões para seus mistérios. Mas o filme também tem suas limitações. A principal é não se contentar em ser um pequeno grande filme de terror, mas almejar ser um filme de arte.

O estreante Eggers parece ansioso para mostrar que sabe filmar bonito: cada plano está saturado pelo desejo de ostentar estilo –o que torna o resultado demasiadamente calculado. É um apego à razão em um gênero baseado justamente na falência dela.

A BRUXA
(The Witch)
DIREÇÃO: Robert Eggers
ELENCO: Anya Taylor-joy, Ralph Ineson e Kate Dickie
PRODUÇÃO: EUA, 2015, 16 anos


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