Folha de S. Paulo


Investigação no Theatro Municipal aponta superfaturamento

Bruno Poletti/Folhapress
William Nacked, presidente do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural, responsável por contas do Theatro Municipal
William Nacked, presidente do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural, responsável por contas do Municipal

O ex-diretor do Theatro Municipal de São Paulo José Luiz Herencia deixou de ser o único suspeito em inquérito que investiga irregularidades na gestão iniciada em 2013, quando o maestro John Neschling assumiu a direção artística da casa, à convite da Secretaria Municipal de Cultura, então sob comando de Juca Ferreira.

Na sexta (26), após apreensões de documentos na sede do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural, organização social responsável por parte das contas do teatro, o Ministério Público do Estado informou à Folha que identificou indícios de "contratos superfaturados, de esquemas para lavagem de dinheiro, de enriquecimento ilícito e de desvio de finalidade nos contratos".

A operação também teve como alvo a casa do diretor da IBGC, William Nacked, bem como o imóvel onde fica outra organização presidida por ele, o Instituto Brasil Leitor. Segundo a promotoria, novos documentos comprometem a gestão do IBGC. O prejuízo estimado às contas municipais chega a R$ 20 milhões.

Procurados pela Folha, William Nacked, os dois institutos e o maestro John Neschling não quiseram dar entrevistas.

Essa é a segunda apreensão coordenada pela promotoria em operação conjunta com a Controladoria Geral do Município neste caso. A primeira foi realizada há três meses e atingiu imóveis de Herência. A apreensão deu início ao inquérito criminal. Em janeiro, o ex-diretor do teatro teve dois apartamentos, três terrenos em Ilhabela e automóveis de seu patrimônio bloqueados pela Justiça.

Ao investigar Herência, a promotoria identificou irregularidades diversas, como a movimentação de R$ 2,7 milhões em uma conta que pertencia a ele (entre janeiro e junho de 2014), além de outras em contas de uma ex-namorada e de sua mãe.

A decisão judicial que bloqueou bens cita repasses suspeitos das empresas Bruno Soares Bernardo Produção Cultural, Mídia Mental Produções Artísticas, JJ Produções Cinematográficas e Igor Fagury Eventos.

INTERVENÇÃO

Com a evolução da investigação, na sexta (26), o prefeito Fernando Haddad determinou intervenção na gestão do teatro, bem como nos prédios, serviços e bens usados pelo IBGC ou que foram cedidos à organização pelo município. A intervenção está sendo comandada por Paulo Dallari, que assumiu a direção do teatro desde a saída de Herencia, e a duração é de 90 dias.

Segundo a Controladoria Geral do Município, órgão subordinado à Prefeitura, a intervenção foi feita para "apoiar as investigações" e também para assegurar "a continuidade" das atividades do teatro e da programação de concertos e óperas.

A controladoria também tomou parte na apreensão realizada na sexta no IBGC e iniciou auditoria interna. O órgão diz que "todos os contratos feitos pelo IBGC serão analisados na sindicância instaurada", o que inclui serviços e pagamentos a cantores contratados pelo teatro por meio de agências estrangeiras.

Segundo a Folha apurou, cerca de 30% das contratações dos artistas estrangeiros que participaram das temporadas líricas dos últimos três anos foram feitas por meio da agência italiana In Art, a mesma que representa o maestro John Neschling no exterior.

DEVOLUÇÕES

Essas não são as primeiras investigações que atingiram a administração do Theatro Municipal. Em 2014, a Promotoria do Patrimônio Público e Social iniciou inquérito civil que, entre outras irregularidades, investigou a contratação de Neschling pela IBGC, sem o uso de carteira assinada.

A questão era o risco de que futuramente o maestro possa abrir ação trabalhista contra a prefeitura. Ele ganha hoje R$ 150 mil mensais por meio da empresa PMM Produções Artísticas.

No mesmo inquérito de 2014 está informado que o Instituto Brasil Leitor precisou devolver aos cofres públicos cerca de R$ 50 mil.

O valor era referente ao aluguel de um imóvel utilizado pelo IBGC. Como o IBL também fazia uso do edifício, os responsáveis pelo inquérito entenderam que a OS deveria participar do pagamento do aluguel.


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