Folha de S. Paulo


CRÌTICA

"A Vizinhança do Tigre" oferece visão genuína sobre a periferia

"A Vizinhança do Tigre", segundo longa do mineiro Affonso Uchoa, insere-se na onda atual de filmes brasileiros herdeiros do neorrealismo italiano. A utilização de atores não profissionais, a representação do cotidiano, o olhar documental aos moradores de periferia, um estilo que evita a espetacularização e o melodrama. Essas são características desse tipo de filme.

Estamos diante de uma das produções mais interessantes dentro dessa tendência. Uma das poucas que não se contentam com a fórmula e procuram mostrar algo genuíno.

Divulgação
Cena do filme 'A Vizinhança do Tigre
Cena do filme 'A Vizinhança do Tigre'

Temos três adolescentes de Contagem (MG): Neguim, Junim e Menor. Eles ficam ouvindo rock e se agredindo uns aos outros, eventualmente armados, mas com grande senso de camaradagem.

O principal foco do filme, vencedor da Mostra de Tiradentes de 2014, é a amizade entre esses três jovens que aparecem geralmente em duplas e raramente fora do ambiente onde vivem. Não há uma trama e, assim, é praticamente um documentário sobre suas vidas, entre pequenos roubos, venda e consumo de drogas, e outras atividades.

A proposta é fazer com que o espectador veja o cotidiano dos meninos, sinta com eles as agruras da vida na periferia, os modos simples de diversão, as possibilidades estreitas de um futuro decente.

Um momento forte é a despedida de Junim. Despedida triste, solitária, com uma carta emocionada para a mãe. É uma cena tocante, mesmo com a opção pela desdramatização.

Sempre no perigoso limiar do viés sociológico, "A Vizinhança do Tigre" se sustenta bem. Sua força é discreta; sua verdade, dura, embora nada de trágico seja mostrado.

A VIZINHANÇA DO TIGRE
DIREÇÃO Affonso Uchoa
ELENCO Aristides de Sousa, Eldo Rodrigues, Maurício Chagas
PRODUÇÃO Brasil, 2014, 16 anos
QUANDO em cartaz
AVALIAÇÃO bom 


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