Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Estádio do Morumbi envelheceu mais do que os Rolling Stones

Se você é ranzinza e gosta de falar que os Rolling Stones estão velhos, saiba que o Morumbi está mais caquético. Não importa que a inauguração oficial do estádio tenha sido em 1970, oito anos depois da estreia da banda.

Mick Jagger & Keith Richards compensam sua condição de veteranos com fôlego de garotos e um show impecável. O estádio deixa escancarados seus problemas num evento tão grande quanto o da última quarta (24), quando mais de 60 mil pessoas foram ver a banda inglesa de rock.

Marcelo Justo/Folhapress
Show da banda Rolling Stones, nesta quarta (24), no estádio do Morumbi, em São Paulo (SP)
Charlie Watts (ao fundo), Ronnie Wood, Mick Jagger e Keith Richards no show de quarta no Morumbi

É consenso que o estádio do São Paulo precisa de uma reforma. A questão da falta de conforto ficou mais evidente nos últimos dois anos, após a inauguração das arenas levantadas para a última Copa do Mundo no Brasil.

Uma opinião recorrente em rodas de conversa na plateia do show dos Stones: fazer o show no Allianz Parque seria melhor. Não há nada de debate clubístico na afirmação.

Com eventos recentes e bem-sucedidos com outros gigantes do rock, como Paul McCartney e David Gilmour, o estádio do Palmeiras ganhou confiança da plateia. Tem cadeira confortável, estacionamento e estação metrô a uma caminhada.

A razão da escolha é óbvia. McCartney e Gilmour reuniram a cada show cerca de 40 mil pessoas. A carga de ingressos para uma noite de Stones no Morumbi foi de 65 mil.

Cerca de 25 mil pagantes a mais é fator decisivo para viabilizar a vinda dos Stones, que tem números milionários guardados em sigilo total.

No entanto, mais público significa mais gente lidando com as condições adversas do Morumbi. Lá é ruim para chegar e mais complicado ainda para sair. Sem uma linha de metrô próxima e sem grandes estacionamentos.

Ir de carro obriga o fã a enfrentar trânsito pesado para chegar à região e uma imobilidade total junto ao estádio. Para estacionar, flanelinhas nada simpáticos chegaram a cobrar R$ 200 na quarta.

Quem escolhe o táxi chega mais fácil, embora a melhor opção seja descer bem longe dos portões e seguir a pé. O problema é sair.

Nas ruas laterais ao estádio, na quarta, as saídas do público das arquibancadas e da pista convergiam para o mesmo trecho, causando tal congestionamento humano que as pessoas simplesmente não conseguiam andar para qualquer lado.

Os bloqueios no tráfego e as dezenas de milhares de pessoas tomando as ruas impedem a chegada de táxis. Os que furam essa barreira cobram o que quiserem. E nunca querem pouco.

Dentro do estádio, são poucos acessos para os setores de arquibancada, principalmente os mais altos. Respeitar o lugar marcado no ingresso é tarefa quase impossível na arquibancada. Na última checagem do procedimento de entrada, o ingresso fica retido, deixando a pessoa sem uma prova da localização exata de seu assento. Para transpor fileiras e encontrar uma acomodação, às vezes é preciso pisar sobre as cadeiras, para azar de quem vai se sentar ali.

Em relação a um show dos Stones na Europa ou nos Estados Unidos, a coisa complica mais. Lá não tem a separação insana da pista VIP, invenção elitista e mercenária no Brasil, nem banheiro químico. E as opções de comida são melhores, pode apostar.


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