Folha de S. Paulo


Filme sobre Amazônia coroa bom momento do cinema colombiano

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Os dois principais concorrentes ao Oscar de melhor filme estrangeiro tratam de temas considerados batidos no cinema. Mas, assim como o húngaro "O Filho de Saul" oferece uma abordagem original sobre o Holocausto, o colombiano "O Abraço da Serpente" trata de uma viagem à selva de modo pouco usual.

Antes de mais nada, por ser um filme em preto e branco. "Mostrar a exuberância das cores numa floresta seria o lugar-comum e desviaria a atenção da história fundamental, a do encontro que ocorre ali", afirma à Folha o diretor Ciro Guerra, 35.

A trama se passa em dois tempos. Em 1909, quando o etnólogo alemão Theodor Koch-Grunberg conhece o xamã Karamakate em sua juventude. E, depois, em 1940, quando o biólogo norte-americano Richard Evan Schultes refaz a viagem anterior e encontra um Karamakate já mais velho, com as convicções do passado, mas com mais vivência. O índio é o último representante de sua tribo, que foi dizimada por exploradores da borracha.

A história se baseia nos diários e cartas escritos pelos dois brancos durante suas estadas na Amazônia colombiana, cujo objetivo era encontrar a yakruna, uma erva com poderes de cura e de "fazer sonhar".

Embora apoiado em fatos reais, muito do enredo é ficcionalizado, e a história política da Colômbia é sugerida como pano de fundo. O ponto de vista é o de quem vive na selva, quase como se o tempo e a política dos brancos ocorresse em um outro plano.

Efe
Cena do filme 'O Abraço da Serpente
Cena do filme 'O Abraço da Serpente'

A floresta, por sua vez, é um elemento vivo, que emite sons e gera deslumbramento e medo em proporções parecidas.

"Quis construir a história como um encontro entre estudiosos, entre pessoas que se dedicam ao conhecimento, sendo brancos vindos da cidade, dos EUA ou da Europa, ou indígenas", conta Guerra.

A indicação de "O Abraço da Serpente", que já havia sido exibido no festival de Cannes no ano passado, coroa um bom momento do cinema colombiano, que vem se fazendo cada vez mais presente no circuito europeu de mostras.

O fenômeno está relacionado à criação de uma lei de incentivo que direcionou recursos para a área, mas também a um clima de otimismo que vive uma nova geração de criadores e artistas, da qual Guerra faz parte.

"Eu nasci numa Colômbia em guerra, e agora estamos vendo uma esperança de que ela termine. E com isso vem uma vontade de redescobrir o país, ir a cantos dele nunca visitados, ou não tanto como deveríamos. Faz parte de uma busca de identidade de minha geração."

FARC

Atualmente, o governo colombiano trabalha na finalização de um acordo de paz previsto para ser assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no mês que vem. O fim do conflito com a guerrilha significará uma recuperação do acesso a grandes territórios do país, muitos deles na região da selva.

"Os colombianos não tem a mesma relação com a nossa parte da Amazônia como o Brasil tem com a de vocês."

Divulgação
Ciro Guerra nos bastidores de 'O Abraço da Serpente
Ciro Guerra nos bastidores de 'O Abraço da Serpente'

Sobre a indicação, Guerra afirma não alimentar muita expectativa. "Estar entre os cinco já é um grande avanço. Nunca estivemos no mesmo nível de outras cinematografias da América Latina, como a argentina ou a mexicana. Essa indicação já coloca o cinema colombiano em outra posição. Estar na festa do Oscar é um grande reconhecimento."

Além do favorito, o húngaro "O Filho de Saul", "O Abraço da Serpente" concorre com os longas "Theeb", da Jordânia, "Guerra", da Dinamarca, e "Cinco Graças", da França.


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