Folha de S. Paulo


MINICRÍTICA

Jornalista que já assistiu a 232 shows dos Stones avalia turnê

O jornalista Dean Goodman, autor de "Strange Days: The Adventures of a Grumpy Rock 'n' Roll Journalist in Los Angeles", assistiu a 232 shows dos Rollings Stones no mundo todo —dos quais seis são da turnê Olé, que chega a São Paulo na quarta (24).

A pedido da Folha, ele fez breves críticas sobre o que encontrou em Santiago, Buenos Aires, Montevidéu e Rio de Janeiro.

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SANTIAGO, 3 DE FEVEREIRO

Algo que se imaginava que seria um ensaio geral casual no sonolento Chile para os três shows principais na superfanática Argentina acaba sendo uma apresentação impecável de uma banda de rock'n'roll quase no auge de sua potência.

E, o que talvez seja mais importante, todo mundo sobre o palco está se divertindo a valer, curtindo a primeira apresentação sul-americana dos Stones em uma década.

Entre as 19 canções há o resquício da era psicodélica "She's a Rainbow" ("Their Satanic Majesties Request", 1967). Outras favoritas do público incluem os singles dos anos 1960 "Paint It Black", "Jumpin' Jack Flash" e, é claro, "(I Can't Get No) Satisfaction".

AVALIAÇÃO muito bom 

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BUENOS AIRES, 7 DE FEVEREIRO

O clima de expectativa é febril. Os fãs argentinos dos Stones são os mais malucos, e todo fã dos Stones no mundo sonha em fazer uma romaria até aqui para fazer parte dessa experiência sobrenatural.

Desde os acordes iniciais de "Start Me Up" ("Tattoo You", 1981), a multidão jovem em frente ao palco explode em frenesi, pulando com os braços no ar, com as vozes ao máximo. É um pouco assustador porque você não tem o menor controle enquanto é carregado por todo o campo pela multidão esmagadora.

Você tem medo de que sua perna ou tornozelo sejam fraturados a qualquer momento. No final do show você está completamente encharcado de suor. Mas absolutamente satisfeito.

AVALIAÇÃO ótimo 

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BUENOS AIRES, 10 DE FEVEREIRO

Como os fãs poderiam superar a loucura do primeiro show? Cantando. Eles conseguem tomar controle de "Midnight Rambler" ("Let It Bleed", 1969), o blues homicida de 15 minutos que chega na metade do show.

Durante um dos momentos de calma na canção, o público canta o riff da guitarra por vários minutos. O feitiço vira contra o feiticeiro. Mick Jagger vira o espectador pasmo e precisa lançar mão de seus 50 anos de experiência para retomar as rédeas.

Quando Keith Richards vem para frente para tocar seu par de canções previsto, a multidão aplaude e canta por vários minutos. Keith fica claramente maravilhado com a acolhida e parece estar prestes a se dissolver em lágrimas.

AVALIAÇÃO ótimo 

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BUENOS AIRES, 13 DE FEVEREIRO

A tendência de cada vez mais tinha que acabar em algum momento. O terceiro show é reduzido para 18 canções, e os Stones tiram o pó de "You Got Me Rocking" ("Voodoo Lounge", 1994), que inexplicavelmente (e de modo suspeito) ganhou na votação online dos fãs.

Mas nenhum fã legítimo quer ouvir essa canção descartável e tola, quando o fértil catálogo dos Stones contém tantas canções subutilizadas. Pelo menos eles também tocaram "Beast of Burden" ("Some Girls", 1978) pela primeira vez na turnê.

Alguém na frente do palco vomitou quando Keith começou a cantar "You Got the Silver" ("Let It Bleed", 1969). Keith cantando não é tão ruim assim!

AVALIAÇÃO muito bom 

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MONTEVIDÉU, 16 DE FEVEREIRO

O primeiro show realmente histórico da turnê sul-americana dos Stones, quando eles se apresentam no Uruguai pela primeira vez.

Mas é um show padrão, sem surpresas. Os Stones preferem esticar suas 18 canções em jam sessions, com muita participação do público (exemplo: "Miss You" ["Some Girls", 1978]), do que acrescentar material novo.

Eles caíram numa rotina confortável. A votação online escolheu "She's So Cold" ("Emotional Rescue", 1980). Os fãs são um pouco menos desvairados que os da outra margem do rio Prata. Há famílias no público, e homens levaram suas namoradas que possivelmente teriam preferido ficar em casa ouvindo Katy Perry.

AVALIAÇÃO bom 

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RIO DE JANEIRO, 10 DE FEVEREIRO

É um show dos Rolling Stones ou uma convenção de smartphones? Os brasileiros podem ser belos, mas será que precisam ficar fazendo selfies durante o show inteiro, com as costas para o palco? Definitivamente não estamos mais na Argentina.

Os fãs descontraídos no Maracanã estão ocupados demais se divertindo para acompanhar as músicas. Os Stones fazem uma apresentação descuidada, com alguns erros.

Tocam uma canção mais ou menos nova pela primeira vez na América Latina, "Doom and Gloom" ("GRRR!" 2012), para um mar de rostos sem reação. Mick Jagger apresenta Ronnie Wood à multidão como "o novo mascote das Olimpíadas". Seria melhor que Vinicius, sem dúvida.

AVALIAÇÃO bom 


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