Folha de S. Paulo


Fãs esperam horas por um aceno dos Rolling Stones sob sol e chuva no Rio

Se em sua quarta turnê brasileira os Rolling Stones não atraem mais tantos fãs dispostos a ficar dias plantados em frente a seu hotel, a banda ainda tem alguns admiradores fiéis dispostos a encarar sol e chuva pela oportunidade de um aceno ou uma foto com os ingleses.

No início da manhã desta sexta-feira (19), a aglomeração diante do hotel Copacabana Palace, na zona sul do Rio, onde estão hospedados os Rolling Stones, ainda era tímida.

O programador Julian Luis Fagundes, de Porto Alegre, era um dos poucos a aguardar uma aparição dos ídolos do rock.

"Eu estou de férias no trabalho e cheguei aqui na terça-feira [16] para passar uns dias e ir ao show. Comprei o ingresso no primeiro dia de vendas e esperava encontrar mais gente por aqui", contou. Até por volta das 17h, ele continuava na expectativa.

Melhor sorte teve um grupo de três amigos argentinos que saíram de Búzios, na região dos lagos, na noite de quinta (18) e, depois de pegarem quatro vans e uma barca em Niterói, chegaram na frente do Copa na alta madrugada.

"Nós vimos quando eles chegaram de madrugada de uma festa em Santa Teresa. Não tinha ninguém aqui. Mas hoje eles não apareceram", conta Agustin Marcantoni, 22. "Nós viemos com mochilões e sacos de dormir e estamos dormindo aqui na frente do hotel. Estamos vendendo artesanato para tentar conseguir dinheiro para comprar ingressos para o show."

Originalmente de Rosário, na Argentina, Agustin, Sebastian Kornowski, 22, e Nahuel lopez, 22, mostravam seus colares feitos com pedras e cristais e as pulseiras artesanais para quem passava, e não perderam a chance de provocar os fãs brasileiros. "Se fosse na Argentina, ia estar lotado", comentou Agustin, em referência aos poucos esperançosos que aguardavam os Stones.

Por volta de 17h, o baixista da banda, Darryl Jones, deixou o hotel pela entrada principal e logo foi abordado pelos fãs, antes de entrar apressado em um carro utilitário preto. Uma fã teve tempo de entregar um bilhete dobrado endereçado para o guitarrista Keith Richards.

mais de 20 shows

Apesar de já ter presenciado mais de 20 shows da banda inglesa ao longo de seus 54 anos de vida, o norte-americano Stephen Geller Katz, psicoterapeuta, também se postou diante do hotel para ter a visão dos roqueiros.

Tendo morado no Rio de Janeiro durante quatro anos, ele voltou depois de três anos longe, agora para acompanhar a turnê pela América Latina nos shows no Maracanã, neste sábado (20), e em São Paulo no dia 24.

"Meu primeiro show foi no dia 1º de julho de 1978, no Cleveland Municipal Stadium, em Ohio. Até então, tinha sido o maior show dos Stones, para 84 mil pessoas. Naquela época os ingressos custavam cerca de US$ 10 e as pessoas ainda reclamavam!", afirmou o fã nova-iorquino, que também é músico e costuma apresentar canções dos Stones.

"Eu conheci a banda ainda na minha infância, quando minha mãe comprou o álbum 'Beggars' Banquet' (1968). Nós morávamos em uma base militar e em uma festa de Natal ela foi chamada para escolher uma música e colocou Stones para tocar. Eu achei aquilo muito radical. Eu não vejo essa turnê com um clima de despedida porque os Stones estão muito vivos e acho que não pensam em se aposentar. Eles são uma inspiração de como conduzir a vida na velhice. Eles me fazem felizes", contou, mostrando orgulhoso o registro que fez de Mick Jagger no primeiro show que foi em 1978.

Pai e filho, Carlos Roberto da Silva Zafani, 43, empresário, e Leonardo Tomaz Zafani, 16, são de duas gerações diferentes e vão ver pela primeira vez o show do quarteto. "Viemos de Goiás e estamos aqui na frente desde 8h. Devemos ficar esperando até umas 21h. Ninguém dá nenhuma informação, mas temos a esperança de receber pelo menos um tchau", disse o empresário.

Fã de carteirinha da banda, o advogado mineiro Leandro Alves de Melo, 27, não poupa investimentos para ver de perto os Rolling Stones.

"Eu estive agora em Santiago e fiquei na primeira fila, na chamada 'tongue', um espaço reservado para quem comprou um ingresso VIP. Eram cerca de 300 pessoas de todo o mundo, da Austrália, do Japão", contou orgulhoso, com a credencial na mão como um troféu.

"Junto com os Beatles, eles fizeram o rock ser o que a gente conhece hoje. Como banda, em termos de história e influência, não tem igual. Enquanto um dos quatro não morrer, eles não vão terminar."


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