Folha de S. Paulo


crítica

Com planos longos, 'O Cavalo de Turim' merece ser visto de joelhos

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O húngaro Béla Tarr é um dos maiores cineastas contemporâneos. Herdeiro de Andrei Tarkovski e do cinema novo húngaro da década de 1960, chegou à plenitude de seu estilo com a obra-prima "Sátántangó", de 1994.

Por isso é um acontecimento o lançamento, ainda que tardio, de seu último longa, "O Cavalo de Turim" (2011), no circuito comercial paulistano.

Não importa o atraso. O filme merece ser visto de joelhos. Desde o início, quando é narrada, com a tela em negro, a história pela qual passou Nietzsche em Turim.

Num passeio, o filósofo se apiedou de um cavalo que estava sendo maltratado, entrando em surto que durou até sua morte, dez anos depois.

Logo depois desse episódio narrado de modo soturno, vemos um cavalo conduzindo um homem em uma carroça.

É um plano de quatro minutos e meio, executado com uma música solene ao fundo, que nos faz entrar no mundo cinematográfico construído cuidadosamente. Um mundo de tempos lentos, densidade narrativa, personagens mudos e taciturnos em um preto e branco assombroso.

Reuters
O ator Erika Bok em cena do filme 'O Cavalo de Turim
O ator Erika Bok em cena do filme 'O Cavalo de Turim', dirigido pelo cineasta húngaro Béla Tarr

Talvez seja bom explicar que Béla Tarr, como Tarkovski e Kenji Mizoguchi, é antes de tudo um cineasta do plano. Ou seja, dessa unidade pertencente a uma cena e localizada entre dois cortes.

Se num filme comercial um plano geralmente dura entre dois e dez segundos, os planos de Béla Tarr costumam ultrapassar um minuto, e por vezes têm muito mais. Consequentemente, cada plano é muito bem pensado e realizado.

Em "O Cavalo de Turim", temos um homem, o dono do cavalo, que mora com sua filha numa casa isolada. Eles vivem quase sem contato com a humanidade e parecem esperar alguma coisa.

Dias melhores? A escuridão eterna? O apocalipse? Não é o tipo de filme que entrega soluções dramatúrgicas convencionais para apaziguar nossos corações.

O espectador verá que a resposta é coerente com o cinema sempre instigante e reflexivo de Béla Tarr. E com a informação de que este longa, infelizmente, é sua despedida do cinema.

O CAVALO DE TURIM
(A Torinói Ló)
DIREÇÃO Béla Tarr
ELENCO János Derzsi, Erika Bók e Mihály Kormos
PRODUÇÃO Hungria/França/Alemanha/Suíça/EUA, 2011, 14 anos


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