Folha de S. Paulo


Artista francês acusa brasileiro Andrey Zignnatto de plagiar suas esculturas

Uma série de esculturas feitas de tijolos vem parecendo mais frágeis aos olhos da crítica desde que se tornaram alvo de acusações de plágio.

Há dois anos, Andrey Zignnatto, um ex-ajudante de pedreiro de Jundiaí, no interior paulista, estreou como artista criando imensas paisagens construídas com tijolos recortados, estruturas que lembram paisagens em erosão.

Suas peças de visual acachapante não demoraram a conquistar uma parte influente da crítica, sendo levadas para mostras no Paço das Artes, na Funarte, na feira ArtRio e na galeria paulistana Blau Projects, que representa o artista.

Mas, desde dezembro do ano passado, Zignnatto está sendo acusado de plágio pelo artista francês Vincent Mauger, que realiza há pelo menos 11 anos uma série de trabalhos com tijolos recortados -suas peças, como as do brasileiro, parecem avalanches de pedra que tomam todo o espaço das salas onde são montadas.

Essa história ganhou visibilidade desde que o crítico francês Maxence Alcalde publicou em seu blog há dois meses um artigo atacando Zignnatto e as instituições que mostram seu trabalho -a postagem foi compartilhada nas redes sociais e estourou há pouco no Brasil.

"Isso é desconcertante", diz Mauger. "Seu trabalho é o mesmo que o meu, só que menos radical. Não é um trabalho dele, é uma exploração de algo que já fiz e que está ganhando visibilidade. Acho isso injusto. Suas composições parasitaram as minhas."

Mauger não conhecia Zignnatto, que também não conhecia o francês. O ponto de contato foi um terceiro artista, o peruano Ishmael Randall Weeks, que mostrou em dezembro passado, na feira Art Basel Miami Beach, uma instalação também com traços muito semelhantes às obras do francês e do brasileiro.

Zignnatto conta que pessoas que viram o trabalho de Randall Weeks no balneário americano disseram que o peruano copiara seu trabalho.

Mas a obra exibida em Miami, embora criada no ano passado, não é a primeira daquele artista a usar tijolos recortados. Segundo Andrea Serrero, galerista da Revolver, que representa Randall Weeks em Lima, essa série foi iniciada há seis anos.

Em ordem cronológica, Mauger teria sido o primeiro a usar a técnica, Randall Weeks o segundo e, por fim, Zignnatto, que alega nunca ter tido contato com obras desses artistas nem com o mundo da arte contemporânea até despontar no circuito.

"Vim de uma família bem pobre, meu avô era pedreiro e fui trabalhar com ele levantando muros", conta Zignnatto. "Fiquei chocado quando vi as obras do Vincent, chateado mesmo. Há inúmeras semelhanças, mas desenvolvi o meu trabalho a partir do que eu via nas fábricas, de como os operários cortavam os tijolos."

Divulgação
Obra de Andrey Zignnatto
Obra do brasileiro Andrey Zignnatto, acusado de plágio pelo artista francês Vincent Mauger

Agnaldo Farias, um dos primeiros curadores a mostrar o trabalho de Zignnatto, defende o artista, lembrando que a história da arte tem muitos casos de "coincidências e caminhos que se cruzam".

"Numa situação como essa, você tem que provar que é plágio com muito cuidado, senão é uma calúnia", diz Farias. "Ele é filho de pedreiro, trabalha com olaria e tem essa sensibilidade, está explicada a origem do trabalho. Não há por que duvidar dele."

Juliana Blau, dona da galeria Blau Projects, que representa o artista, enxerga "semelhanças estarrecedoras" entre as obras, mas diz que é preciso comparar não só a aparência das peças mas também a pesquisa por trás delas.

Mauger e sua galeria, a Bertrand Grimont, em Paris, enviaram cartas à Blau Projects e à Revolver, em Lima, dizendo que a obra do francês era propriedade intelectual que deve ser respeitada.

Nenhuma das duas respondeu a carta, mas Blau diz que, por enquanto, deixará de expor as obras dessa série de Zignnatto por causa da "reação absurda" que provocou.


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