Folha de S. Paulo


'Rolingas' renegam origens, mas ainda emulam trejeitos dos Rolling Stones

'Rolinga' em ação

Eles dançam e se vestem —ou tentam— como Mick Jagger. Foram apelidados há mais de 20 anos de "rolingas", mas hoje decidiram rejeitar o rótulo. Faziam parte de uma tribo de fãs dos Rolling Stones que surgiu na Argentina em meados dos anos 1980 e que também curtia bandas locais com sonoridade parecida à dos ingleses.

Agora, porém, são como os hipsters: nunca assumem o que são. Preferem dizer que são "stones", uma outra tribo de fanáticos pelo quarteto, mas que não acompanham grupos argentinos. A verdade é que surgiu um preconceito contra os "rolingas". "Eles são mais sujos", diz Lucas Lordi, "stone" de 28 anos.

Na tarde de domingo (7), cerca de oito horas antes de Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts subirem ao palco do Estádio Único Ciudad de La Plata (a 60 quilômetros de Buenos Aires), alguns fãs se amontoavam na frente de um hotel.

Ali, Guillermo Alarcon, 43, e Julio Ochoa, 36, esperavam Keith Richards aparecer na janela —ele e Watts são os únicos hospedados no local, a Mansão do Four Seasons, enquanto Jagger está no Hyatt, a poucas quadras de distância, no Retiro, e Ron Wood, no Faena, em Puerto Madero.

Alarcon e Ochoa também se dizem "stones". Ochoa está sentado no chão, jardineira jeans e, nos pés, Topper branco -marca de tênis indispensável para um "rolinga". "Você é um 'rolinga'?", pergunta a reportagem da Folha. "Não, eu sou um 'stone'", responde.

Qual a diferença? "O 'rolinga' dança diferente. Usa lenço no pescoço e tênis branco e está sempre bebendo cerveja", explica, bebendo cerveja e calçando tênis branco.

Alarcon, fã dos ingleses desde os seis anos de idade, aponta para um homem que dança no meio da rua para as câmeras de TV: "Ele é um 'rolinga'".

Juan Carlos Soarez, 44, veste calça jeans rasgada e uma camiseta estampada com a língua dos Rolling Stones, que deixa a barriga à mostra.

Não lembra muito a elegância de Mick Jagger, mas está com o tênis branco nos pés e faz a tradicional "dança do galo" —que, aliás, não foi vista nenhuma vez durante o primeiro show da banda na Argentina nesta turnê.
Após todos dizerem que Soarez é, de fato, um 'rolinga', ele nega. "Sou 'stone'."

Onde foram então parar os famosos "rolingas"? No mesmo dia do show dos ingleses, havia um festival de rock na província de Córdoba onde diversas bandas iriam se apresentar. Os ingressos mais baratos para o evento custavam cerca de R$ 190 por dia, enquanto não havia nada por menos de R$ 395 para os Stones.

Os preços fazem uma diferença grande para os "rolingas", que costumam ser de classes sociais mais baixas.

Na frente do estádio de La Plata, finalmente, dois autênticos "rolingas" se assumem. Sergio Gimenez, 33, diz que ser "rolinga" é "paixão" e que "está no sangue". José Luis Diosuez, 39, diz: "É isso que você vê. Cabelo cobrindo a orelha, Topper e camiseta da banda".

Dentro do estádio, tanto "stones" como "rolingas" são raros —o valor das entradas parece ter barrado esses fãs.

As barraquinhas de produtos oficiais da banda estendem camisetas em que se lê "rolinga". O modelo dificilmente será comercializado no Brasil. Na Argentina, porém, a vendedora garante que a saída é boa, mas não se vê ninguém com uma dessas.


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