Folha de S. Paulo


Análise

Menos amor e mais Beyoncé teriam salvado o show do Super Bowl

Nos segundos finais do show do intervalo do Super Bowl, a frase "acredite no amor" apareceu estampada na plateia. Amor? Depois do que foi ao ar, só posso acreditar em Beyoncé. Esqueça Coldplay e Bruno Mars, que ficaram como coadjuvantes do espetáculo.

Beyoncé é hoje a artista pop mais urgente e relevante dos Estados Unidos. Nos poucos segundos que teve sozinha em campo com sua trupe de dançarinas, a cantora ofuscou todo o resto de uma apresentação que deixou a pirotecnia de anos passados para trás e mergulhou sem dó na cafonalha.

Mesmo com uma performance nada excepcional, ela provou que a arena do maior evento esportivo americano é feito para gigantes em campo e divas no palco. Não valem performances muito paradas ou sentimentais.

Depois de uma sequência insossa de hits do Coldplay, com direito a uma orquestra que parece ter saído de uma escolinha de ensino médio qualquer nos arredores do estádio, Beyoncé entrou em campo seguindo o roteiro de flashback que pautou o show em homenagem aos 50 anos do Super Bowl.

Vestia um figurino parecido com o de Michael Jackson, quando ele foi a estrela do show em 1993. Naquela ocasião, Jacko cantou "Black or White", seu libelo antirracista. Beyoncé relembrou a memória do astro cantando os primeiros versos de "Formation", música lançada na semana passada que é também um manifesto de exaltação da raça negra na era Obama.

É uma pena que o Super Bowl tenha tentado encaixar na mesma apresentação a chatice açucarada do Coldplay. Bruno Mars, com "Uptown Funk", até dialoga com Beyoncé, mas limitou o potencial explosivo de uma canção como "Formation", atualíssima e poderosa.

Não se esperam grandes mensagens políticas de um evento esportivo que fatura bilhões de dólares, mas o Super Bowl deste ano acabou não entregando nada, nem uma apresentação de encher os olhos –aliás, foi das mais pobres de todos os tempos– e nem uma mensagem muito clara.

Mas é nessa zona indistinta, entre a festa publicitária e o vazio de um glamour efusivo, que algo de bom costuma surgir nesses momentos em que todos os olhos de um país, e nesse caso do mundo, se voltam para o mesmo evento. Menos "amor" e mais Beyoncé teriam feito mais pelos fãs de uma América menos problemática.


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